13/05/2015



"Caminhava cantando porque, quando estou feliz, sinto irreprimível necessidade de cantar em surdina, como todo homem feliz que não tem amigos"
Dostoievski


Não sei nem por onde começar, será demagogia marginal de minha parte?







Faz uma noite agradável na 15 de Novembro esquina com Anchieta. Soraya Montenegro desfila dando timidozinho Oi enquanto levanto pra verificar placa urbana que exibe nome do beco do rango. Preciso levar comida pra Jurema y Tibicuera, minhas gatas. Sob um céu púrpura-poluição agora escrevo, encostado na cortina de ferro, sentado no degrau forrado de metal estilo aqueles que revestiam busões nos ânus 80/90. Agora 20h32. Visto havaianas preto; bermudão cáqui com bolsos, guerrêro; camiseta preta com listras coloridas da grife de sk8 de Poa; cabelo semiloiro amarrado no topo deixando à vista laterais raspadas; envolta do pescoço duas correntes de ôro que comprei na feira do rolo e uma de bolinhas metálicas com bronze de índio americano de perfil, suspenso; presilha de couro no tornozelo esquerdo; mochila Bagaggio; sacolão de ráfia branco com alças amarelas pra armazenar vitualhas da caridade paulistana.
Trecheiros fedorentos parolam a poucos metros, de modo semi-desagradável a quem assiste, ou seja, eu. Um me estuda rapidamente da cabeça aos pés enquanto escrevo, outro se esforça para convencer de algo que não decifro, apenas sinto. Chega um terceiro: o zureta ultrafedorêinto que deitou-se em meu colchão do Ocupa Duque de Caxias - não sei por que, quando me cumprimenta, ele aperta olho direito e arregala esquerdo: - é por loucura mesmo, tadinho (atestou-me Soraya posteriormente, num tête-à-teta proibitivuns) -. Ele diz E aí, blz? fazendo peculiar careta, then senta fora do meu campo de visão. Me ponho a analisar os conferencistas semi-desagradáveis: um tem sotaque nordestino (o que me mediu), cavanhaque, orelhas de abano, rosto castigado moreno; se veste com simplicidade, tem uns 40 anos. O 2° ostenta cerca de 10 anos a mais; calvície crescendo em cima da testa, com entradas na fonte indo mais longe, restando chumaços de cabelo curto, seco e crespo cujo grisalho da raiz vai afastando a margem de acaju escuro; olhos verdes encovados, rosto chupado, magricela, nariz adunco; sotaque cosmopolita de morador de rua; também em andrajos. Desde que estacionaram em frente à minha atenção eu já estava sentado em frente ao boteco fechado da 15 de Novembro esquina com Praça da Sé. Chegou rango: Igreja Encontro com Deus. Em frente à catedral católica forma-se fila de fudidos.

- Vamos trazer o espírito de Deus, bem-aventurados... Jesus! Soberano Deus! Eterno pai! Ministra o coração de cada um aqui Oh Pai quero repreender Satanás! leva toda hoste tua bagagem você perdeu essa noite Lucifér em nome de Jésus Senhor DEUS AMÉM PAI NOSSO QUE ESTAIS NO CÉU


¡corta!



Dentro do busão rumo à 4° dose da vacina antirrábica no Emílio Ribas. Demagogia porque se um dia eu for rico (e creio que serei muito rico), penso que minha opinião social da vida pesará demais como compromisso desgastante da consciência. Coppola: gostosa cabalística que ficou pra trás do mesmo modo que eu pra ela. Soraya fica de buceta molhada por dinheiro, já meu amor é puro prepúcio do olho no olho. Foi-se o tempo em que mariconas me convidavam Ai vâmo pra Europa passar uns tempos? eu hein. Tem muita gente na fila, cê aguarda um cadinho faz favô? Do meu lado direito uma pranta cujo nome desconheço, à minha frente paisagens maravilhosas das belezas naturais do Brasil como chapada diamantina, parque jurerê, amazônia, pantanal, lençóis maranhenses, cânions, febre amarela, malária,


¡corta!

 

Cicatricure no supercílio. Aos poucos minha fase simpático vai se misturando à fase apático. Esperando pela boia da Senador Paulo Egídio. Às vezes nos apaixonamos por uma pessoa quando, de alguma forma, ela está ~na pior~. Amamos a tristeza, ruína, tragédia das quais o hospedeiro não vê a hora de se livrar. Já fiquei com cerca de 10 Anas até hoje. Com Elizabeths me mantenho sempre alerta, por causa da batuqueira. Katylenes e Katifundas são infalíveis na chupeta. Já homens cujo nome começa com M são todos perdidamente apaixonados por mim, librianos principalmente, me amam quando estou mal, investem paqueras que sufocam ontologia das azarações. Meu fonema preferido é o emitido pelo j de Jurema.
As pessoas passam e eu fico aqui sentado como na beira de um rio vendo a vida passar pela perspectiva da margem, vejo o fluxo espiritual fluindo sobre esse ar de desânimo dos moradores de rua: será que eles já saíram da caverna de Platão? Quem sai da caverna não pode dizer que saiu, pois isso seria sua morte, segundo meu amigo americano. Entendi que pra sair desse buraco é preciso acordar cedo, comer menos, estudar mais, não praguejar aos transeuntes, praticar esportes, não fumar, não usar tóxico, aceitar solidão como uma coisa boa, conhecer a mim mesmo. Tenho pra mim que ainda não saí, digo, acho que uma vez saí sim, vi o que tinha lá fora, não gostei, e voltei.
A sopa chegou, graças a Lú(cifer).



¡corta!

 

Discoteca Oneyda Alvarenga: debulhar o trigo, cio da terra milagre do chão. Leio Gertrude Stein: chuva de referências. José Agrippino de Paula: sintaxe cansativa. Agora não pergunto mais aonde vai a estrada, vai ser vai ser vai ter que ser vai ser xereca assada muito tranquilo. Quem recebeu o polêmico bilhete não está. Pielechovski: vago demais. Deixar o seu grelo brilhar na luz de cada dia cego amolado. Ainda continuo sem trampo, fui manguear naquele boteco da Barão de Itapetininga esquina com Dom José de Barros: a atendente disse que sou muito bonito pra trabalhar; tomei meu gardenal, ela perguntou Que ator morreu? Tu sempre chora quando um ator morre, né, alemão? Tão precisando de chapeiro ali na outra esquina. Agradeço o donativo, respondo É fia a crise né? A Petrobrás, né? Tchau, fique com o Senhor Jesus Cristo de Nazaré e com a Virgem Maria de Calcutá. Saio esbaforido rumo à última dose da hepatite duplo-adulto no UBS Bandeira. Não estou brincando de ser underground, eu SOU underground. Evito me amalucar, não sou bobo de burguês. Bobo do povo é aquele alemão que finge sotaque gringo pra pedir carona no bus. Vira disco: narrativamente esgotado.


¡corta!


 
Natação Ibira: essa semana não teve/tem aula. Pesquisei o face do colega Taumaturgo. Indícios de que é cantor lírico, morou na Itália, tem gosto refinado, ou seja, é burguês. 1° dia de aula, num exercício de respiração imitou meu tom de voz achando que assim conquistaria simpatia desse suposto tímido gaúcho, mas sua namorada (que sempre entra n'água extravagantemente maquiada: pó de arroz blush rímel glitter sombras coloridas...) ficou calada, respiração suspensa na direção de minha visão global. Lá pelo 3°, 4° dia seu atarracado namorado e/ou marido machucou uma perna e não pôde continuar no treino, ela ficou olhando pra minha cara como se eu fosse o culpado (?) (: psico). De outra feita cheguei e os cumprimentei normalmente, sorrindo, como sempre faço com qualquer um: a reação deles foi uma cara de bunda silente, estupefata. Resolvi desde então não mais mostrar os dentes tbm pro outro colega, Teobaldo: na hora do chuveiro ele me encara de esguelha cada vez que deixo de fitar meu próprio corpo para abranger o recinto e ficar de olho nos meus pertences. Ele pretende demonstrar com esse gesto que tem consciência de que não vou manjar furtivamente suas partes íntimas. Esse ~latinista~ 4 olho é pneuzudo, apara pentelhos como a grande massa, tem altura e quiçá mesmo prestígio capital que o tenor, de quem a íntima amizade conquistou embasado na minha leitura de espectador ~inocente~, do mesmo modo que cavalos da umbanda precisam de gente pra ver eles incorporarem. Tudo leva a crer que esses dois são daqueles que para o bromance só aceitam outro falso hétero (a palhaça o aprova, sorridente e semi-bitch). Meu desempenho físico parece estranhamente depender da relação com esse trio. Desde quando deixei de oferecer alegria melhorei minha técnica, respiro melhor no crawl. Os bofes de verdade tão na turma das 18h e as gatas no judô, ui. Aliás preciso urgentemente educar minha defesa pessoal antes que quebre outro dedo e/ou mate alguém. Certo que estou mais controlado, penso 7 vezes antes de agredir covardes, me contento em perder na discussão e/ou me afastar de possíveis conflitos físicos feito bunda mole mesmo, não me importo. A gorda que ouve Zeca Pagodinho na minha frente acaba de torcer nariz. Pelas minhas caretas ao cantar Volver a Los 17 julgou que poderia fazer pouco caso; engulo seco, ela entra em sincronia com minha alta guarda de derrotado, ora, está melhor vestida e não é idiota! Escrevendo isso aqui não me torno refém do fetiche de seu cavalo. Eu visto: calça esporte preta com fina listra laranja em cada lateral; havaianas preto que era do Kauê; camisa social de listras azuis, cinzas, azul forte, azul claro; cabelo semiloiro platinum semi-preso; correntes de ôro, índio apache; anel boy-zica no anelar esquerdo; barba de uns 1,6 cm loira natural no bigode; olhos verdes; peito peludo semi-descoberto.
Eliminei Tina, a psicopata do BBB 15, e ao fazer isso fiquei confinado sob um prato gigante onde ela antes estava, consequência da qual o incentivador do voto decisivo - Rafael Licks - não me advertiu, disse que tinha se esquecido assim que soube do destino. Levantei hipótese de que ele fez isso de propósito como estratégia de jogo. Aracy Balabanian sumiu ou estava debaixo do prato também. Tô no lado B do 2° disco e Cio da Terra ainda não tocou. Engulo seco one more time. Pressão do cavalo da gorda. Se eu tivesse centenas de olhos daria conta de todo mundo que me paquera; como isso não é possível me torno refém do jogo do fascínio. 4 anos solteiro, vendo pessoas desistindo de acompanhar minha pachorra, indo serem felizes com gente mais esperta emocionalmente. Ô, moço, eu vou sair, tá? Brigado, valeu (cavernoso afetuoso).


prosa


 
EXPLODE CRAVO SANGUE PRESENTE!

Ninguém se coloca no meu caminho
Ninguém me atira pedra
Ninguém nunca está do meu lado

PETRÓLEO PRETO ESPIRRA OSSO CENHO!


Maria Alice Vergueiro reconheceu meu trabalho artístico.

23/4/15: de volta ao mesmo lugar da Anchieta com 15 de Novembro. Copo plástico com café mangueado na mão. Rola um rap gospel no Pátio do Colégio, onde imagens de filme com a danação de Cristo passam projetadas na parede da 1° igreja construída nessa cidade; crentes evangélicos dançam em círculo batendo palmas e sacudindo o corpo ungido; um grupo de franciscanas mendigas voluntárias passa rapidamente, olha feio pra bispa Sônia depois dirige-se pra fila da saborosa sopa de quirera de arroz com banana dos espíritas; trabalhadores sobem até a Sé ritmados por conversas em voz alta. Soraya Montenegro passa silente e cabisbaixa no exato momêinto em que levanto a cabeça e digo Bando de trouxa entre os dentes. Guardo agulha e linha preta (costurei rasgo que se fez na camiseta quando me levantaram pra subir no muro de um prédio abandonado da 9 de Julho, na última ocupação do MLSM). De tarde li o livrão da Ana C. do IMS, com manuscritos y datiloscritos y fiquei depressivo no sopão da Conde de São Joaquim. Um sujeito de Adidas colorido me persegue. Agora me dei conta que enquanto escrevia esse parágrafo, aqui na Praça Paissandu, a biba peruana do meu andar se aproveitava que eu estava de costas, e se punha a analisar minha sexualidade, até o momêinto que uma loira peituda meio nerd fez com que eu torcesse pescoço, descobrindo assim seus estudos - sentada(o) no degrau do vestíbulo do Ocupa Prédio de Vidro (ela(e) baixou cabeça pra interlocutora maloquêra assim que a(o) fitei). Como não tenho nada pra fazer agora que o café acabou, levanto do banco, me ponho a limpar o jardim da praça, vou catando lixo embalado pela conversa de 2 bebúns sobre bíblia jesus deus está escrito ninguém vem ao pai senão por capítulo 69. Chego no mocó do 7° andar: Tibicuera brinca de me arranhar: atinge a cara: a arremesso pra longe mas ela não desiste. Jurema para de miar e come um pouco do sopão de ontem, Tibicuera decide copiar.

15 de Novembro com Praça da Sé: reconhecimento de ratos camuflados; acaba de estacionar caminhão com funcionários da Eletropaulo; um senhor desamarra bicicleta do ferrolho; ao fundo sucesso de Zezé di Camargo & Luciano sample de Vanessa das Matas feat. Ben Harper vindo do boteco depois que dobra a esquina da rua Direita. 20h55: quer saber como estou vestido?  Mais um atendente sai do boteco que cerrou portas e na frente do qual tô sêintado's. Passa a lolozêra que agrediu aquela senhora que havia quebrado garrafa vazia de cerveja em seu rostinho juçara. Semi-praguejo neomímicas pralguns burguesoides que na minha frente desfilam; latidos dum cão trecheiro; ônibus elétrico; garis; evangélicas eróticas; era o Billy e a muié dele latindo, eles cheiram o lixo do MacDonald's. Fila do rango da Sé: não simpatizo com um rato à minha direita.

Eu era copiloto dum automóvel meio roubado, eu mais uns 3 ou 4 sujeitos, incluindo fedorêinto zureta: o obriguei a tomar banho antes do embarque, ele entrou debaixo d'água fria, no subsolo do estacionamento onde nos encontrávamos; com esse gesto corajoso de rápida limpeza ele imitava Rodrigo Roots. Fugíamos de alguma coisa, acelerei sem querer e causei acidente num barranco: chamei geral pra sair do carro, tínhamos que escapar dos perseguidores. Encontrei-me no Othon Palace Hotel, ocupamos (eu mais um pessoal do LMD, como a coordenadorazinha que roubou minha mala) último quarto do 1° andar sem pagar contribuição. Tentaram arrombar a porta - já meio capenga de ocupações passadas - então decidi usar sussuarana pra impedi-los, pedi aos room-mates que me ensinassem o modo de conduzir a felídia.
O motorista do busão ficou brabinho e decidiu parar de dirigir. Tive que tomar a direção pra fazer curva e estacionar num terminal que mais parecia rodoviário. Como não sei dirigir fui na sorte testando quais eram os pedais de embreagem, aceleração, freio. Deu certo.

Fila do rango da Marconi. Um noia atira bastão de ferro em cortina de ferro cerrada pichada e sai correndo sentido Praça da República. Na praça Dom José Gaspar rola festa de maconheiros, Fuck Da Police grita um noia da fila em resposta à música que inicia. Fuck Da Police! Uhuu! Fila or-ga-ni-za-da eu gosto de ordem! Senhas começam a ser distribuídas. E ae alemão!! Fila organizada! Todo mundo no lugar! Começa a procurar um quartinho em Curitiba, fiquei um mês lá, Arruma essa bagunça essa barulheira tá atrapalhando tudo (no megafone a Matrona da Boia). Ligeiro sem furar fila eu quero ver todo mundo organizado NÃO PRECISA FURAR FILA QUEM TÁ COM A SENHA NA MÃO GENTE PEGOU A SENHA FICA NA FILA SE SAIR DA FILA EU TIRO SENHOR NÃO PODE SAIR DA FILA EU GOSTO DE REGRA NÃO ADIANTA CHEGAR LÁ COM DUAS SENHAS QUE EU VOU TOMAR!!! CADÊ A SENHA? Na África a maioria tem nível superior, desculpa isso não procede não o único lugar assim é em Cuba se aparecer o tubarão ele vai atrás da jangada nigeriano vem tudo rico na cocaína do facão cachaça foice cê tá loko de cachaça Cristo tudo batuque é profeta mesmo não questiona o estado justo não pode eu não fumo droga Osasco Guarulhos. Deu. Barriga Cheia.

¡boia!


 
Boca de rango da Liberdade. Soraya Montenegro fica meio afastada, com franja acaju alaranjada tapando olho defeituoso e vestindo habitual uniforme de chiffon y musselinas oriundo do espólio que evangélicos captam pras doações a(o)s mendigas(os). Se ela fosse um animal seria uma lombriga meio asquerosa, e eu uma lesma ou caracol graúdo. Às vezes cismo que vou morrer de câncer nas tripas e/ou esôfago. Penélope Jolie ficava braba, ainda lembro, quando eu tomava muito café, eu não economizava. Certa vez ela disse gritando Quando você estiver numa cama de hospital cuspindo sangue você vai lembrar o que eu te dizia, não é pra ficar tomando café de balde seu retardado!
Um calvo branco magricela acaba de passar me chamando de zarolho feio, não demonstro reação adversa alguma, semi-paralizado pelo policial que se finge de mendigo, irritante, ele enverniza seu discurso fiado com o que supõe ser tom da minha disposição espiritual. Por que essa gente implica tanto comigo? É porque você é bonito, as pessoas têm inveja (atesta-me posteriormente João Roberto Temporini). Rio. Não nasci pra ser malandro, man. Odeio a juventude, sempre odiei, vetores da ignorância de mercado. Odeio mais ainda gente burra, sempre odiei a cultura da burrice, meu pavor é ser julgado por justiceiros como os que mataram a pauladas a ~bruxa~ do Guarujá. eu hein. Odeio todo mundo: socialista antissocial. Coreanos e africanos passam sem me agredir, ao contrário dos ~brasileiros~. Do outro lado da avenida, Gumercindo sobe escadas da lan-house 24h. Ao lado funcionários da Farmais cerram última cortina de ferro pichada e se despedem com sorrisos no fundo desejando ardentemente que o colega de trabalho morra. O alemão que finge ser estrangeiro pede ajuda em inglês tentando convencer casal de jovens nerds desses típicos da Liberdade meio cosplay meio mangá, pois precisa da passagem de volta a L.A. 'cause two little kids rob me bla bla bla...
Casal entra no Banco Itaú, o alemão fica aqui fora na minha frente cantarolando Born in The USA (estou sentado no chão em frente a esse banco da namorada da Marina Silva). Casal retira quantia que ignoro, voltam a ganhar a rua, colocam cédula(s) na mão do ~gringo~ e sugerem com mãos um destino que me fica obscuro; o loiro faz que não entende muito bem a indicação então os três caminham juntos em direção à estação Liberdade do metrô. Ao fundo o famoso hit Homem Não Chora, você foi embora bora bora... Se tu para pra pêinsar todas relações humanas ou uns 98% delas são triangulares, ou seja, casais sem um 3° elemento humano não funcionam, ficam desenxabidos, insossos. E não falo só de casais que namoram e sim qualquer pessoa que troca informação, energia com uma 2°. Isso vale também pras relações virtuais, é o famoso close da linguagem trans. Bin Laden chega me encarando de cima do nariz: o cumprimento em continência. Estaciona carro dos Amigos do Sopão: trecheiros se alvoroçam pra fila, sou o 1°, 1° homem, porque muié, crianças e idosos têm prioridade.
Na fila dos espírita que corta cabelo de graça a pança já bem forrada. 20h55: apriorismo radical sente a sofrência sertaneja que vem do boteco, incentivando meu sacolejo estrambótico. Esgaravatador pousado entre dentes, Trotsky na camiseta, jeans ras...


¡corta!


 
23h: reunião no prédio de vidro, a trava suplente ex-mendiga pede Por favor que todos Não saiam do hall até que chegue o chefão Ananias! Algumas pessoas têm um certo preconceito, por isso tomo cachacinha com tipo de corante verde na barrigudinha y barrigão meio peludo de fora, rego predizendo delícias do cofrinho meio cagado, meio cabeludinho e fofo; corro pra lá e pra cá meia grogue, meia lôka, dentes podres, olho roxo devido à briga com coordenadora evangélica sapatona. Sul-africanos e nigerianos olham a cena semiabismados, vez e outra fazem furtivos comentários em seus dialetos tribais. Michês; tias nortistas de 1 metro e meio; traficantes; histéricas maloquêras alcoolizadas; funk ostentação tocano no celular roubado; pernilongos; chikungunyas; famílias bolivianas; Mc Brinquedo; mavambos de bigodinho e tatuagens de ex-presidiário; gatos no cio; irmãos; lolozeiros; gigolôs; 1 vendedor ambulante de pamonha; 1 cabeleireira peruana emo solteira; 1 palhaça franzina que pede dinheiro nos transportes ~públicos~; 1 judeu pobre de quipá, sobrancelhas meio raspadas, bicicletista; 1 núcleo familiar asquenazi meio 13; carroceiros;  ex-moradorxs de rua; Franz Kafka; crianças meio ciganas; móveis e eletrodomésticos semiabandonados ao lado de um cachorro preso na mesma condição; nasceu uma verruga dorsal logo abaixo da nuca; íncubos enxergam corpo de onde roubam energia; Ha Ha Ha Ha Ha, meu! Tá loco, tio! O bagulho dá de 10 em Heliópolis lá, ah, parça, cê é louco, tio, ser homem é saber incubar tesão no coração indefeso? Essa arrombada não para de tirar sarro de mim respeito olha esse cabelo seco sem tratamento quer usar Neutrox? vai trabalhar vacilão usar Kolene! Cão raivoso da luta de classes inferiores Assinem a lista se não paga multa de 50 real (traduzo pros sul-africanos e nigerianos); briga entre Sarita (a mona suplente de olho roxo e barrigão à mostra) com quenga que afirma Tu não é meu macho!). Segue-se crescente balbúrdia. Converso com uma masisi semibanguela sobre hipótese de terem assassinado a última trava coordenadora, Jussara, ~delegada~ do saudoso Pena Forte: deixava várias pessoas - incruindo eu - morarem de graça no Ocupa Prédio de Vidro. Alguns boatos dizem que foi embora com cerca de 15 mil da contribuição feita pelos mensalistas não-isentos; e/ou que foi para Santo Amaro à procura de um antigo amor de sua juventude em Exu (PE); e/ou que se juntou aos recentes insurgentes que uniram forças para ocupar casarão da São João formando assim o MMM (movimento mundial de luta por moradia). O fato é que ela não baixava voz à alta cúpula do movimêinto, que carece de estratégia prévia às sucessivas ocupações mal-sucedidas, ao contrário do estruturado pré-planejamento que ostenta o FLM da Néti. Ora, aqui saem invadindo qualquer prédio vazio que no mínimo esteja com todas luzes apagadas sem pesquisar histórico, proprietário, se IPTU está em dia, se tem zelador etc; parece um monte de barata tonta mercenária, só querem saber de tirar dinheiro do povo! (a contribuição é de 150 até 450 reais, depende do tamanho do espaço. FLM cobra singelo 50 pau, aguerrida militância). Interlocutora me confessa seu sonho: gravar um cripe com Rita Cadilac: "Mulher Mangaba e Mulher Tutti-Frutti". Sugiro que o cenário seja fila da Boca de Rango. Ela arregaça grandes lábios e mostra gengivas, alegre. Saio pra manguear café: sou mal-sucedido.

 -  ***6° andar cadastro 75 Paulo ou João (marido dela). Te dou assim uma luz, digamos, distribuir panfleto em Santo André, que tal?
- Tá
- Já trabalhou segurando as praca?
- Arram. Eu bato lá sexta-feira, blz? Falow, boa noite...

Saio pra procurar Jurema que foi dar rolê e não voltou. Encontro o michê tatuado musculoso com seu filhinho no 4° andar. Ele aderiu à moda de iconezinho embaixo dos olhos: diamante. Pergunto:

- Tem água no teu andar, parcêro?
- Ô, cara, sei não, vê aí.

Ele dá as costas no meio da conversa, meio arredio, meio tímido, meio índio desconfiado do europeu colonizador imagético de transatas punhetas em sweet surdina. Vou até o banheiro, não sem antes descobrir amor pela cabeça do meu pau, já em flor, na aura da cabecinha do piá, brincando de desbravar territórios desconhecidos. Nisso seu pai volta a falar, meio comigo meio consigo mesmo: Minha mulher me deixou.
Começo a cantar, distraído, 🎶 você foi embóga bóga bóga traveco num 🎵


¡chóga!