08/07/2015

carta a oswald

"Paiz de dores anonymas. De doutores anonymos.
Sociedade de naufragos eruditos."

(...) Não permitta Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo"

ANDRADE, Oswald de - do livro
Pau-Brasil


Certifico-me de que Tibicuera y Jurema não escapuliram then passo corrente pelo buraco entre porta e batente. Then nasce ideia: narração deste dia fornecerá substância digna de explanação. Animado, desço escadas cantando o hit "Traveco num Chora" ao som real de tiros e sinos da igreja São Bento. Consigo charcar o primeiro café y diálogo do dia no boteco da Dom José de Barros com Barão de Itapetininga: não é demagogia, é minha vida, blz? Ai, alemão... Desempregado ainda? (Cabisbaixo, em tom de lamúria) Arram... Pode responder uma pesquisa? Posso, mas tem brinde? Não, não tem. Tá, respondo questionário dum instituto que trabalha com deficientes, digo que não me sentiria bem sem visão nem audição porque trabalho com isso sou ator etc. O(a) entrevistador(a) inquire O Sr. não disse que estava desempregado?
Reflexivo, saio do largo das Casas Bahia e vou andando até a UBS República. Marco consulta pra data mais próxima: em setembro poderei agendar psiquiatra com clínica geral. Quem sabe no natal reabastecerei o cérebro de sertralina. Tem cloro? Não, não tem. Nessa água do volume morto não confiem - recomenda a professora de teatro. Tento decidir: ou vejo a peça dela na Oswald ou vou nadar no Ibira ou Oh, No! Você é pobre mesmo, mano!, e isso que é ser atual no Brasil. Escroto. Vai chupar uma rola, vai comprar seu manual de palavrões politicamente corretos. Ok. Controlo insultos transeuntes, mangueio um café na Ouvidor then vou atrás de outro na Câmara Municipal. É que preciso tomar banho, meu... Meu cabelo, sem vida, sem brilho... Minha narrativa presumida... Minha ocupação sem água. Dou descarga e me decido por ducha pública na Tenda da 9 de Julho. Depois teatro.

Abre a jaula: assistente social gatinha dá o kit de higiene. Dá tbm um pouco de pó pra chulé faz favô? Dá desodorante Senador, fedendo no busão: Ô, moço, Sr. motorista, pode mim conseguir uba carôda até o CAPS? Por favor? Sorriso gostoso com casca de feijão: sobe lá atrás, vai!
Vejo essas néca odara e fico a pensar se realmente estou 2 cm acima da média brasileira: esses trecheiro tem tudo rola grande. Imagina se sou aceito no Oficina, num dia frio como esse, no meio daqueles fauno. Vou tentar vencer na dialética dionisíaca.
Ai mais o Zé Celso tá gagá, cê vai lá só pra ser mais um puxa-saco? Agora já depositei os fintchy reais, mina. Ai, guri, mais as pessoas que interagem saem do espetáculo se sentindo mal, usadas, é teatro infantil para adultos, não perde teu senso crítico... Blz, tu tá com inveja, né? Por isso fica me espinafrando. Sabe que sou palhaço mais tenta obliterar meu veio trágico. Não sabe reconhecer potencial de estrelas nesse feio céu que agrega colaboração opaca de fumaça monótona? Quer mostrar teu rosto limpinho pois pressupõe cegueira às torpes arestas do teu carguismo? Opinião hoje em dia tbm é fingimento, política apaixonada. Hoje em dia mais vale discurso florido no facebook que o tête-à-tête que nunca tive depois da morte, meu amor. Hoje em dia ser brasileiro é pôr camiseta da seleção e bater panela nas janelas do Higienópolis. Hoje em dia tenho mais buracos que antigamente. É bom se rasgar - recomenda a professora.

Brasil tipo exportação: Carmen Miranda, café & açúcar versus carnaval, futebol & mamelucas? País bonito de se ver. Nosso progresso intelectual ganhou vida autônoma e o que podemos fazer é colocarmo-nos na pele marginal cabocla querendo ser inglesa pra descrever essa "hidra social" que criamos. Se tu caminhasse pela Rua 15 uns 3 anos atrás vislumbraria lindas barracas de lona azul que sem-tetos armavam nas margens dos grandes prédios públicos, comerciais, financeiros, multinacionais. Só que hoje tem bastante ocupação de prédios outrora vazios devido à falência de seus proprietários. Alguns estavam nessa condição há mais de 10 anos. Hoje em dia patriotismo é mais um instrumento que a burguesia aprendeu a manejar a seu favor. Constato que tentativas de me retratar sincronicamente consciente faz com que desperdice energia em vão nesse blog que ninguém lê, e no qual agora escrevo só porque preciso apresentá-lo em minha defesa. Mero artifício pra sair do estado civil de solteiro? Sim, poetas são tudo mal-fodidos. A gente escreve pra seduzir e eu não vou cair no lugar comum dos bem amados que, liricamente diurnos, sofisticam signos de modo hermético. Beleza pra mim nunca teve nem nunca terá nada a ver com dinheiro, ou seja, continue limpando nariz, continue sujando arestas furtivas que continuarei fazendo minhas caretas transumanas. Sou um cara muito amável e você é quem afaga e/ou arranha: agora dorme, dorme quietinha... Mas de onde você é? (estético) (dobra de correnteza geral) Autoparódia: isso que significa ser brasileiro? (quase dormindo. Não posso! Tenho que fazer depósito!)

Acordo. 15h. Ainda não escrevi texto pro Oficina e amanhã é o fim do prazo. Cabalisticamente roubo livro (sobre Antropofagia e Tropicalismo) no Red Bull Station, que me ajuda a recapitular ideias y paralelos de influência com minha obra já publicada, mas insisto em criar algo novo embasado no cotidiano. Algo novo? Releio Pau-Brasil e O Rei da Vela pra inspirar. Organizo o barraco: levanto colchão e o suspendo no varal. Limpo cocô das gatas e nisso reparo, acariciando com o dedo, que meu próprio cu tbm está meio cagado. Pego uns lenços umedecidos pra limpá-lo e nisso percebo que estou sendo observado por dois sujeitos do prédio da frente: empino meu orifício pentelhudo para que eles tenham uma visão mais privilegiada, entre os autoproclamados risos de Zé Pilintra.

Vejam!

O cu!

O CU DO MUNDO!


HUAHUAHHAUHAHAUHAUHAUHAUHAUHAHAUHAUHAUHAUAHUAHUAHU
HAUHAUHAUHAUHAUHUAHUAHUAHUHAUHAUHAUHAUHAUHAUHA
HAHAUHAUHAUHAUHAUHAUHAUHAUHAUAHHUAUHAUHA
AHUAHUHAUHAUHAUHAHUUAHAUAH
AHUAHUHAH