06/12/2008

antigo perfil de orkut

fui o garoto simpatia do meu colégio
tenho medo de machado de assis
chorei quando a nazaré morreu
chorei com a música "sometimes salvation" do black crowes
tenho bunda de pagodeiro
bela lugosi's dead
I'm dead undead I'm dead
sou militante
sou solteiro
profissão: vagabundo

vâmo?

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02/11/2008

transgenesis

Muito embora a treta soasse primaveril, seria difícil transferir gestão daquele frugal pseudofurto.
Eram 3 ou mais contas de luz e água atrasadas, 3 ou mais páginas de sombra pra disfarçar nada tímidas relações de tempo.
Nítida e estatística geometria foi transferindo picuinhas e tentativas de polução, estimuladas pelo idoso blush, em harmonia à noite - mais condizente com prosperidade de KY-33 no trígono das Perseidas.
À altura do clima de saia justa -televisionado pelas fendas lobistas da apuração final de nanosalmos-, relâmpagos e trovões da profecia não alteram o humor paralítico da fisionomia: toda de branco -dublando o fim de mais um beijo em Todomundo-, em tules, florzinhas, tafetás, mosquiteiros e tiara de conchas sobre a volumosa peruca de Clara Nunes.

A despistar crise ao mesmo tempo em que camuflava não só o segredo do novo ciclo, como também os euros, debaixo do picumã, deixando de expiar como louca assim que, incitada, a caravana da Crackolândia distrai olhares furtivos do Silvio Santos sobre o peito tatuado; portentosa, Penelope Jolie aproveita pra desmocosar o dinheiro e passá-lo ao calouro contíguo, Todomundo (travestido de Roy Batty). Tudo que câmeras captam é o 3° turno do acerto de contas:

__ Quando usted vai pagar o aluguel do unicórnio?
__ Assim que vosmecê deixar de manter a tradição de emprestá-lo pro voo imaturo dos teus ebós transgênicos. Não vou ficar custeando as peripécias do teu edi.
__ Roy, el pegáseo inferno está confundindo sua cabeça; até agora, pelo que jo sei, apenas suos pés saum alados.
__ Cadê a tristeza?
__ Mixqueci na espaçonave!

O 3° candidato já ia reivindicar o n° de ciganomania quando o casal retira-se correndo e translorixando baile até os bastidores.
O pré-programado pulso do novo ciclo palpita nas últimas bocas de urna de igrejas.
Desesperada pela demora da bunda e culotes, Jussarinha da Beijaflor bate cabelo sobre olhos lápide, para que a tumular cabeça abduza menos dor na contagem regressiva pra KY-33.
No estacionamento do estúdio, comadres codificavam correlação de forças da audiência laranja.
Em braile fluidez, é desaquendada alfazemada condução pra Todomundo, que cerca de 3 horas mais tarde volta do câmbio negreiro e, por sorte, calça com Penelope Jolie zíngaras pernas da corrente até a nave.
Reabilitada, sem chuca é uó - dizia Piu Piu, travestida de Maria Antonieta - mas o papo é reto e ela reitera Penelope Jolie da urgência urânica dos ovários.
Sem resultado emocional, Piu Piu coloca pra tocar uma música evangélica - o que acaba, com titânica eficácia, fazendo brotar lágrimas fosforescentes pra decolagem. Todomundo entra no embalo e batiza a primeira cédula chinesa.
Deixando de tirar cascas de feijão e milho dos dentes, Raquel Munhóz, de Chacrinha, reúne o 3° grau da melancolia dentro do cálice vermelho de cemitério.
Piu Piu dá por encerrada a trilha de Mara Maravilha, mas engarrafamentos atravancam o canto das 3 raças. Era preciso que a ronda do império aliban cruzasse com 3 graças, germinando patrulha em cão menor, pois as últimas odaras operadas mal abrem olhos da voz e cantos rosnam de raiva por não receberem flyer pra buatchy sagrada.
Apadrinhamento cósmico fermenta: idéias dentro do útero simbolista pedem que Todomundo intua alerta vermelho pro final das carreiras...

Já por dentro do esquema, extasiada, Piu Piu decide conferir cheiro de autenticidade no passaporte / Raquel Munhóz chupa bala e oferece boca a necas indigentes de hercúleos e dionisíacos transeuntes / Penelope Jolie esteriliza as seringas.

***jurisdição de altercredos***

Globinho de espelhos convexos discoteorizando: voltam a circular espinhos de luz. Perto do pico da neblina de Andrômeda, o arco íris de fósforo abraça primeira fronteira (fantasma) da (opulenta) apoteose.
Na entrada --área de alto risco--, perigo. Esqueletos eletrificam-se, contagiados por estranha alegria. A suingada escoliose não dá ouvidos às serpes espiãs: parte-se o portal de costelas. Numa tréplica de falsete 7% tabajara, miss Jolie alonga, estala e massageia guardiões da alfândega, voltando do mato com o leite condensado, como tira-gosto. Na superfície de correspondências a segunda refeição do salvador, galëre!
Todomundo planta dinheiro já carimbado pelas lágrimas no esterco da bacia tiranossáurica, Jussarinha da Beijaflor cumprimenta comparsas com abraço alfa e testa a potência dos microfones atmosféricos.

Alô alô marciano, aqui quem fala é da terra.

Cof, coff. 9% apático Todomundo liga amplificadores do satélite.

Hahahaha!
(por cima)

O reality show convalescença trava conversa com vicissitude de agulhas, perto da calcinha.
Ai ai ai, oh! Obstruindo encruzilhada: opera-se o pré-milagre!!! Mal quadris avolumam a seda preta e vermelha, KY-33 entra no greatest eclypse e Jussarinha empunha violão e rebola, frenética.

Doce e muy tocada, Raquel Munhóz leva o silicone excedente pra dentro da nave.

Piu Piu solta a pomba branca.

Atenta aos capciosos conselhos finais do novo ciclo, oh vida! como esperado, a admirável boneca nova reverencia conjuntura transcendental e bate cabeça na esquina das correspondências, truncando destinatária semântica.
O raio azul leitoso finalmente remete prestígio, batendo a mil na cúpula.

3D: transmissão começa: meio tonta, Jussarinha canta e toca Whole Lotta Love.
Fumando charuto, Penelope Jolie tenta uma última vez:

__ Usted mi perdôua Todomundo?
__ A fiadora desse perdão deveria ser vosmecê...
__ Yeah...
__ Aqui está a chave...

Todomundo lhe dá cálice vermelho de cemitério, ela se aproxima da pia e despeja o conteúdo na rósea e tesa boca do robozinho.

01/10/2008

transcendência afogada

Oficialmente, os 4 elementos fundamentais da natureza são fogo, terra, ar e água. Cada um tem sua função, grau de adaptação, combinação; juntos - nos estados sólido, líquido e gasoso (sem falar do plasma e da hipótese einsteiniana da luz) - eles tentam sobreviver no mundo, depois que a raça humana subjugou-os de tal forma que se tornou vítima de suas criações.
Agora imagine que vivemos em algum lugar, primórdio de planeta onde essas matérias ainda não se misturaram muito, como num urbanismo primitivo, hibridez flutuante... Idéias esparramam-se sem futura evolução em vista, pelo prazer no significado que engrandece uma narrativa que é o próprio processo, parte crítica de si mesma e que não prejudica o trabalho do todo, mesmo que ela chame-lhe de OUTRO - conquanto não seja tão boazinha com ele não -. Ambos confundem-se na contribuição para algo mais elevado do que discreto individualismo, atento à cromoterapia de amorfo e antigo princípio, meio marginal, regendo a história da existência.
A consciência meio sartreana de si mesma, não chegando à náusea do existencialismo, mas como que fixada na solidão – no bom sentido que esta pode construir às custas de logopéico tato às under-verdades, subterrâneas leis -, torna-se inflexível, mais importante e reveladora do que avanço tecnológico.
.Ciência, política e religião ainda não coligaram-se a intelecto capaz de exceder em qualidade e quantidade ético-verbal a metalinguística de si mesmo, disso advém o retorno ao aforismo socrático “conhece-te a ti mesmo”.
Gerando teatralidade de intransigência biográfica, dizem que a verdadeira façanha do poeta é analisar - non-stop, inviolável, como réptil, talvez um jabuti - a superfície como mero museu primitivo do homem, sempre retornando aos passos bem estudados de longa carreira, encarapuçada pela memória.
Revestido de trato contemporâneo, tal retorno seria denotado por um anfíbio que decide voltar a ser peixe, pelo fato de não reconhecer-se na superfície, não como parte daquele todo que ajudou a articular.
O desejo do pensamento humano então criou Deus para resguardar vida após a morte, o Paraíso. Comumente associado ao céu, aqui ele figura como Mar. Porém, em fase de ininterrupto e paradoxal crescimento, enquanto o EU lírico desce às profundezas do reino subjetivo, o corpo, idiotizado, segue contrário ao encanto dos cativos hipocampos de Netuno a despistar horizontalidade de relações, criando aviões, naves espaciais, eis o conflito atual da humanidade, o mergulho às avessas: qual a verdadeira saída depois do encontro com nós mesmos?.
Não é de hoje que a água vem sendo explorada na poesia, elemento tido como negativo e/ou feminino pela astrologia, baixo, que desce; sem ele não seria possível vida. Se tornando cada vez mais preciosa, água (doce), no estado líquido, também figura como respiração, vitalidade de poema bem acabado, urdido, visceral, cíclico. Talvez a previsão de um mundo sem água (ou totalmente afogado por ela...) potável esteja influenciando na reconsideração fantasiosa de sereias, filhos afogados, sushimen, aquários, águas-vivas etc [talvez isso tenha se intensificado desde o cinematográfico naufrágio de 1997 do Titanic e do clip "No Surprises" (ano idem) do Radiohead - (como se artistas dessa época estivessem em afogado conluio para melhor e pessoal no-returning processo de entrada no terceiro milênio)].
Em seu livro de estréia, Andréa Catrópa nos incita a acompanhar sua aventura pessoal – em atropeladas sentenças -, no que vem a ser trajeto de rarefeita linha central, debatendo-se e levando parte do concreto maior que a circunda, com ecos de fragrância trovadoresca, até o reencontro da fina condução de vogais soterradas pelas próprias tentativas de retorno à fonte. Pouco preocupada com desfechos morais, essa débil linha quer beatitude de saber-se ligada a algo, como num cordão umbilical que aos poucos faça esquecer a consciência de si mesma e do que acontece fora do útero simbólico.
As coisas começam com o laboratório intensivo de auto-conhecimento do outro. Esqueça o que foi dito até agora: Andréa desvencilha-se, de cara, de qualquer herança literária fácil. De maneira irônica, nada é o que parece tanto na disposição de seus relatos quanto no tom de versos convulsos.



ato compulsivo n° 3.008.011.974.
o prazer ilícito de partir ossos (mesmo que já um pouco.
apodrecidos pela chuva) - as pontas que cercam.
seus muros - a dor auto-infligida de abortar o outro,
colocar o outro no centro do palco que se
transfigura em arena para descarnar.a fala.



"não me reconheço".



Numa tacada só, num golpe de estômago; corajosa, Andréa se expõe sem papas na língua. Sua arrojada e lúdica poética rompe com a própria naturalidade para que possa desvendar antecedentes da mesma. E será quase sempre assim no decorrer do livro. Genial, ela descobriu uma descrição (em olhos lápide) que não precisa abstrair direção interior alheia (devidamente varrida) para gravar seu caminho.
As margens do auto-conhecimento transbordam até domínios pessoais do OUTRO como se uma esfarelada epígrafe coreografasse relação cujo tortuoso cruzamento ainda não permite-lhe conseguir e/ou poder distanciar-se a não ser que seja expondo e partindo ossos ilícitos, mesmo que já um pouco apodrecidos pela chuvachuva que, nota-se, não tem significado positivo por aqui, todavia inclusa no mesmo princípio laboratorial que aos poucos servirá de premissa ao próprio salvamento da inusitada rede, na qual por fim ela se afogará.
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"Surtei repentinamente numa manhã de sábado. os dentes trincados, mas os dedos flácidos.
Minha casa era afetuoso clichê, fora dela, o inferno. Eu estava no mundo há muito, era
urgente pegar o primeiro retorno e não olhar pela janela. erva cidreira, cobertor,. e um.
banho quente. de nada adiantariam, se eu não tirasse os óculos. mamãe ao meu lado,
fictícia e boa ouvinte, a face que me traumatizou devidamente varrida para debaixo do.
tapete. ovos quentes, gemada, fortificantes. meus achaques são típicos de uma anêmica.
acredito. tudo se resolverá assim que o doutor ministrar suas doses. tudo ficará melhor.
após uma boa noite de insônia. tudo estará acabado assim que eu me calar
." .



A onda de referências dos anos 1990 semi-metamorfoseia-se da onomástica às elaborações oníricas. De riqueza imagética que se permite, no máximo, abortos em flor, a meta-crítica da dificuldade humana auto-inflige com modernos signos caros a poetas como Rimbaud, Ana Cristina Cesar, Cacaso, Claudio Daniel... A despeito da influência que não carrega pastiche e/ou área social glamourizada, Andréa, querida, desculpa-se da condição de ensimesmada burguesa, tentando dialogar com um Brasil miserável e com paradigmas marxistas que, entre outras coisas, provocam suicídios poéticos.
Mais além, ibero-americana, enquanto ela vê sorriso oriental em cadela, musas são postas num muro de arrimo - que é o realismo psicológico neo-opressor, com velhas poéticas e poderosa encomenda semântica – até que seja atingido binômio refletor dum Janus noturno e jovem, que atiça o leitor de estética mais bem resolvida e porosa a descobrir traços de inocência que na verdade não existem no rito posto pelo sujeito posicionado na indeterminação.
Trata-se de verdadeiro mergulho, visto por todos ângulos, todos níveis, das camadas íntimas de arco-íris glossarial até mais abissal relativização, desenhada num quadro sinalizador, transitório, cerebral e (de propósito) aberto. O que seria claro-enigma restringe-se ao atual vale-tudo poético, sob ondas de sylviaplathiana indiferença.
Através da descoberta da tripolaridade do EU, a linha d´água se adapta. O rosto do afogado diferencia de que lado vem o touro/ a bomba/ e o corpo/ que aberto sobre a maca/ espera sua autópsia.
Maturação de precoce incapacidade, metaforicamente repleto com metáfora da metáfora, o processus de seu trabalho sobrevive, embora às vezes a pesca de submersa formação de personalidade lírica coincida em grau de concessão a um Caymmi a exortar apenas o aspecto manjado do elemento com o qual decidiu acasalar-se, curar-se.

Depois de enveredar-se nas imensidões do atlântico e pacífico, pode acenar-lhe adorável glacialidade ou retorno à superfície dos náufragos que por fim se salvam? Desistirá Andréa das profundezas? Criará músculos d´água para seguir fluvial rumo ao cânone de pós-moderna poeta?.
De um único fôlego que atravessa dias, afinal, a leitura de tal consistência heterogênea proporciona boas aproximações com a infância.
Foi cumprido o papel de documento de viagem, alternativa de identificação e admiração para o leitor avesso aos meios midiáticos enganadoramente transcendentais.
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Andréa Catrópa nasceu em São Paulo, em 1974. É doutoranda em Teoria Literária e coordenou a série de programas de rádio Ondas Literárias. Integra as coletâneas de poesia Antologia brasileira do início do terceiro milênio (6 dias, 6 noites, 2008), 8 femmes (2007), Vacamarela - 17 poetas brasileiros do XXI (2007). Mergulho às Avessas foi lançado esse ano pela coleção caixa preta, da Lumme. Alguns de seus poemas podem ser lidos aqui.

30/08/2008

bu...

fffelicidade nas sombras é possível?........................ jô soares já era! ............... ocorreria tudo na mais perfeita paz do luto ideal, podes crer... tanto é que a coisa foi jogada assim mesmo, yourselves deliciem-se com a lendária condutora do vale das sombras digitais, quem sabe vossa mercê n00b se torna mais um sorumbático guardião [a saber: o concurso para o cargo de (like me/ like me) guardião das moitas ainda está em aberto... inscreva-se djá] #1 motherfuckers... ................................................................................... insidiosos sentimentos & yingprensa marrom glacê/ têm o orgulho de apresentar/ essa tão aguardada intransvista (que já nasce proibida!!!) ..........................[som de trombetas do apocalipse tocando (necrosadas)] ............................................ com..................
.....Me Morte.....
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transanonymous: e aí mina, blz? pretendo postar essa intransvista no meu blog. ok? tá preparada? então vamos lá, como é de lei, uma pergunta bem manjada pra. começar... como foi seu envolvimento com a literatura? como tudo começou?. abração!!!................
Me Morte: Eu tinha cinco anos quando decidi que ia escrever um livro. Ganhei um caderninho e fui escrevendo ali histórias fantasmagóricas. Eram rabiscos, pois eu não sabia ler e escrever ainda, mas as histórias eram reais na cabeça. Meus pais perceberam e me incentivaram. Acho que foi ali que percebi que podia... Mas meus primeiros escritos mesmos foram poemas alguns anos depois. Sem qualidade alguma, mas eram importantes...
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transanonymous: então o tema sombrio é tema recorrente desde cedo... interessante isso mina... como vc descreveria esse prematuro fascínio pelo lado. negro da vida?.................
Me Morte: Eu convivi com muita morte na minha família. Mesmo antes dos cinco anos. Lembro de ter encontrado meu avô num sono diferente ainda muito criança, meu irmão em torno dos seis anos, minha vó, etc... Enquanto agente é criança a morte é natural. Não vemos um defunto com medo se ele for de alguém que se gosta. Acho que foi aí que aprendi a ver com fantasia, com criatividade. Talvez disso tenha nascido meu estilo por literatura sombria. Mas não levo essa definição a ferro e fogo, pois daí você me perguntaria: "E o estilo libidinoso"? Com certeza não foi de tanta experiência de vida no assunto, rss.....................
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transanonymous: então a respeito do teor libidinoso não tem nada em sua vida. pessoal que tenha contribuído a essa tua também interessante faceta?.
Me Morte: Não. claro que não. Meu lado libidinoso é uma questão de preferência mesmo. Eu adoro textos picantes e me sinto a vontade no estilo. Tenho facilidade em escrever um poema ou conto assim Eu sou sacana, literariamente falando. Muitos de meus contos são sacanagens contra os personagens masculinos, gosto de causar risos. Não seria diferente com sexo, que acho a coisa mais natural do mundo. O sexo saudável sem barreiras, odeio aberrações. Acho que é muito do que penso o teor de meus escritos......................
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transanonymous: voltando ao assunto morte, dizem que quanto mais cedo lidamos. com o luto melhor... você concorda? acha que a mais pura felicidade só advém da. total vivência e entrega ao luto?..................
Me Morte: Não. Não acho que se é feliz depois da vivência e aceitação do luto. Felicidade é um estado de espírito e o somos em muitas etapas da vida, de muitos fatores, menos na morte. A morte é triste em qualquer situação. O que acontece é que damos valor às pequenas coisas depois de vive-las. Aprendemos a falar dela sem traumas nem psicoses. As pessoas vivem melhor se essa fase da vida não as assusta. Ninguém nunca está preparado para morrer, nem se quer morrer em época alguma, seja gótico ou não, mas não falar dela, fingir que não existe, só torna as coisas mais difíceis. Morte é natural, então, mais natural que se saiba usá-la no bom sentido. Na literatura podemos falar de morte com ironia, com humor, com libido. Se o cinema conseguiu nos conquistar com esse tema, normal que tentemos nas letras também. Para mim morte se tornou um tema apaixonante na ficção, mas na vida real pretendo fazer o possível para que ela fique bem longe..................
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transanonymous: vc não acha que a vivência intensa de um luto pode ser a solução. para acabar com as ilusões do mundo e da felicidade burra?.
Me Morte: Eu não penso assim. Acho que depende do conceito de felicidade que cada um tem. Para mim felicidade está em me realizar, em ter prazer em acordar, ter expectativa de vida pessoal e ver meus familiares e amigos bem. Se passei por um luto intenso pela morte de alguém muito chegado, isso não faz de minha existência triste e vazia, ao contrário, me dá sonhos e a certeza de que tenho que lutar pelos meus ideais enquanto estou viva. Eu já perdi pai, mãe e irmãos. Isso não me faz uma pessoa fria e realista, ao contrário, luto para ser feliz com meu filho e fazer dele uma pessoa melhor com toda fantasia que temos direito. A paixão, a felicidade, o amor, tudo isso faz bem. Os que já foram já tiveram sua luta e sei que não seria do agrado deles que eu me condenasse a uma existência de tristeza e descrença. A vida é ruim lá fora, a violência, a prostituição infantil, as diferenças sociais, mas enquanto existir vida agente tem que batalhar pra que isso melhore. Sei que parece demagogia, mas enquanto se tenta melhorar algo a simples idéia atrai coisas boas. Eu batalho por tudo sozinha e me sinto bem assim. Já teve momentos em que tudo parecia sem solução, mas sempre consegui pular para uma fase melhor graças ao meu esforço. Tem coisa melhor que isso?.................
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transanonymous: então vc afirma que as perdas que teve te fizeram valorizar mais. a vida, ok? era mais ou menos isso o que eu queria dizer, acho que essa é a. felicidade verdadeira, ao contrário da felicidade burra... acho que o estudo e a. leitura ajudam muito também, o que vc acha? quais são seus autores. preferidos?..............
Me Morte: Eu gosto de Augusto dos Anjos, Alan Poe, Baudelaire, Ferreira Goulart, Fernando Pessoa, o arrojo do Marquês de Sade, mas não leio muito. São nomes que aprendi a admirar em alguma fase da vida. Eu li muito Machado de Assis, acho incrível seus romances e sua linguagem de época. Gosto de tudo um pouco, mas confesso que os poetas góticos inspiraram muito o meu trabalho aqui na internet. Acho até que foi por gostar tanto deles que surgiu a idéia dos concursos do Vale, unir a idéia de morte dos jovens com a riqueza dos gênios da literatura sombria. Eu acho que versar a morte nos ajuda a encarar as perdas, talvez nos faça mais preparados ou traga utilidade para nossas tristezas. Felicidade burra não existe, qualquer felicidade é proveitosa, nos faz bem, é um estado de espírito, seja com uma existência rica ou não, sempre é felicidade. Numa sociedade onde se vê tanta violência e adversidade, qualquer tipo de felicidade é bem-vinda. Eu me sinto feliz com minha história de vida, mas não acho que seja felicidade burra uma pessoa que nunca tenha encarado uma perda, em algum momento da vida ela vai ter que aprender a lidar com isso, a morte é inerente à condição humana, então que seja bem mais tarde. Eu acho é que cada um tem que ser feliz com sua história de vida, não temos tempo para lamúrias, a nossa estadia aqui é curta............
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transanonymous: mmmm pensei que vc estava me entendendo... mas acho que não Me. Morte... existe um método de terapia chamado psicodrama, já ouviu falar? Tenho. minhas divergências a respeito desse tipo de método mas, resumindo, a pessoa tem. que dramatizar problemas dela em público... ou seja, a exposição permanente. daquilo que ela se esforça pra esconder é a chave para um suave e "da paz". brainstorming... a pessoa sai da terapia atuando... em cima de sua própria dor... não raro existem queixas de perda de memória por parte de alguns dos "curados"... vc tem certeza que acha que vale a pena uma pessoa ser feliz através do. esquecimento de si mesma? ou através de roupas, dinheiro... enquanto o resto do. mundo passa fome? vc acha que vale a pena ser feliz através de. botox, shopping. centers, ilusões afetivas...? vc concorda com a felicidade de quem quer parecer. mais novo cada vez que fica mais velho? sinceramente isso pra mim não é. felicidade, é alegria datada, sem raízes... por isso insisti no assunto do luto, pois só o luto vivenciado intensamente acaba com as ilusões que fazem um monte de. gente fazer festa enquanto suas doenças, problemas mal-resolvidos, parasitismos. emocionais, enquanto tudo isso vai sendo mascarado as pessoas tentam continuar. fingindo que vai tudo bem, esse então é o seu tipo de felicidade? pensei que vc. fosse diferente, mas tudo bem... cada um cada um... fale mais sobre os concursos. do vale, já são sucesso, estou certo? Abração!!!..........
Me Morte: Não deturpe as minhas palavras e tampouco atribua a mim conceitos fantasiados pelo simples motivo de eu não concordar com sua opinião.Vou explicar mais uma vez: minha felicidade depende de muitos fatores; se eu e minha família estamos com saúde; se eu estou me realizando profissionalmente; se estou num bom momento literário; se ajudei um pouquinho meus pupilos, seja com conselhos ou materialmente; se estou ativa nas atividades sociais, que por sinal são muitas; se meu coração está em paz; se estou amando; se transei ontem; dentre outras coisas que não são "plástica, botox ou similares e tampouco demais coisas fúteis". Mas veja bem, eu SOU FELIZ com minhas definições de felicidade e isso não quer dizer que "minhas verdades" sejam as verdades das outras pessoas. Se os outros se sentem felizes com botox e futilidades eu RESPEITO. Não acho legal questionar as verdades dos outros e impor as minhas. Se eu acho que as crianças de rua precisam de atenção eu vou lá e dou a minha atenção dentro das minhas possibilidades. Não posso consertar o mundo, mas não perco meu tempo questionando as atitudes das pessoas, simplesmente tomo as minhas atitudes. Agora seja um bom anfitrião e releia as minhas respostas antes de interpretá-las a seu bel prazer. Os concursos começaram da minha necessidade de interação com os jovens góticos e simpatizantes aqui do orkut. Eu cansei do estereótipo de louca ou suicida que me atribuíam cada vez que me declarava sombria, literariamente falando. Também porque achava que o jovem devia descarregar sua carga de morbidez nos versos e para um aprimoramento, tanto da gramática quanto da criatividade, julguei que seria bem proveitoso que se tornassem periódicos. Eles deram certo e hoje a qualidade dos poemas concorrentes é de fazer inveja aos mais letrados. Eu me sinto orgulhosa a cada edição. .
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transanonymous: Me Morte, não sou anfitrião, sou intransvistador... estou lendo. com muita atenção suas respostas, não as estou deturpando muito menos as. fantasiando ao meu bel prazer... quem me dera... eu apenas dei-lhe exemplos dos. tipos de felicidade mais na moda... já que você disse que qualquer tipo de. felicidade é válida... portanto o comércio de ilusões também é válido, já que ele. não passou pela vivência intensa de um luto pra ser desacreditado, ok? ao. contrário de vc, eu não respeito nem um pouco pessoas fúteis, amo encontrar. oportunidade pra cuspir na cara de gente hipócrita... é ótimo se o sujeito leva. uma vida saudável, trepa, pratica esportes, tem dinheiro, ajuda os outros, realiza-se profissionalmente etc, mas, na falta de tudo isso, se ele não tiver. boa. fleuma vai perceber que seu eu interior continua pobre... pra entender. opiniões. alheias é preciso discutir, assim melhoramos tanto nosso ponto de vista. quanto. o de nosso interlocutor... agora, voltando a uma observação anterior, vc. é sexista?. Acho demais os concursos do vale das sombras, mais tarde comento a. respeito... abração!!!..........
Me morte: Ah! Você é intransvistador? É que eles costumam ser imparciais e tua postura era passional. Não sou sexista, sou uma pessoa verdadeira, odeio hipocrisia. Se acho sexo bom não escondo, digo e pratico. Odeio pessoas cheias de pudores, mas que na hora h gozam feito loucas. Eu assumo que gosto de sexo desde o pensamento pela manhã até a finalização do ato. Mas também sou contra sexo bizarro, nada de pedofilia, zoofilia e o escambau. Para mim sexo bom é feito a dois, heterossexual e com um parceiro a cada tempo, isto é, sou fiel a cada relacionamento vivido. Mas assumo que gosto muito de transar e isso eu transporto aos textos e versos.
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transanonymous: apareceram algumas palavras em hindu no pc... o que ficou. inteligível é que vc adora sexo, heterossexual, isso? o que achas do. para-jornalismo fictício?.............
Me Morte: Distorcendo de novo minhas palavras querido? Se você curte um homem eu o respeito, se alguma mulher curte sexo com mulher eu acho natural, até agora não manifestei minha opinião sobre preferências sexuais, mas tão somente manifestei MINHA preferência sexual. Adoro homem, odeio xana, mas se vc curte alguém do mesmo sexo que você eu dou a maior força, vai fundo. Sou da opinião que em sexo se deve fazer TÃO somente o que se gosta e, desde que vc goste, É MUITO SAUDÁVEL. Eu curto jornalismo inteligente, debates, crônicas atuais, ODEIO sensacionalismo. Se para ganhar audiência se usa SANGUE e notícias SENSACIONALISTAS ou MENTIROSAS, melhor seria que o repórter desse um tiro na cabeça em frente às câmeras, daria bem mais ibope, um incompetente a menos, que em vida só usou lucrar com a desgraça alheia.
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transanonymous: Me Morte, vc ganhou a oportunidade de tentar ser sexista. não. estou distorcendo nada do que vc fala... não estou corrigindo nem os seus erros. de português... [nota: corrigi alguns sim (eram muy graves)] acho que vc não. entendeu. o que eu disse anteriormente: algumas palavras ficaram indecifráveis. não. por sua causa e sim por causa da China, entendeu? esse intruso fator. impulsionou-me a. tentar esclarecer sua resposta... agora, pelo que vejo, vc é a. favor do. homossexualismo, mas não com vc, ok? não acho que repórteres devem se. suicidar em frente às câmeras... embora concorde com seu repúdio ao. sensacionalismo... venho diagnosticando-lhe (através do que vc já escreveu em. seus. contos também...) um certo prazer sádico, não necessariamente sexual. até. que. ponto, sem bizarrices, você acha que isso pode ser saudável?. abração!!!....................
Me Morte: Entendo, vc vem diagnosticando um certo prazer sádico em meus textos e respostas. Interessante. Por isso me convidou para essa intransvista? Até que ponto meu comportamento te incomoda? Não seria o caso de fazer uma análise em vez de intransvista? Acho que sua total insensibilidade para lidar com sentimentos que não sejam do seu agrado denotam um problema grave. Bom, quanto aos meus erros de português, pelo visto eles te incomodam também... A mim eles são normais, não me incomoda saber que vc os percebeu, ao contrário, adoro ver homens perdendo a cabeça assim, a ponto de tentar alfinetar uma mulher... Demonstra o quanto são fracos. E eu sou mais original, ao contrário da sua hipocrisia, te mando, não um abraço, mas "vá se foder". Da próxima vez em vez de um convite para intransvista seja franco e quem sabe eu te ajude no seu problema.........................
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transanonymous: ah Me Morte... o negócio tá ficando interessante... mina... quem. faz essa intransvista com você é uma consciência dispersa, transanônima. sou. um. cara tri sensível, ao vivo então, até poderia te seduzir... erros de. português. estão até numa tradução que eu estou lendo de Lírio do Vale, de. Balzac... no meu. blog, no Paulo Coelho...
+D.
a cultuada revista Coyote... vc é brigona na vida real também? já brigou feio na. rua? abração!!!.............
Me Morte: Já briguei por um lugar ao sol, por respeito no meu trabalho, brigo muito para ser reconhecida, literariamente claro, profissionalmente eu estou onde mereço, graças a meu gênio de batalhadora. Sou brigona sim, mas não brigo só por mim, brigo pelos outros também. Já denunciei bandidos, já peitei gente ruim, não tenho medo de morrer, assumo que sou barraqueira, mas pelo que acredito e para dormir tranquila, não engulo sapo... Me seduzir? Você não conseguiria, eu dou de dez a zero em ti nesse âmbito, mas sem orgulho ou falsa modéstia, é por experiência de vida mesmo. Enquanto vc fazia cocô nas fraldas eu já lutava para pôr comida na mesa. E me orgulho disso.
(e-mail seguinte) - É o seguinte Edson: Sou Mariângela Padilha, gaúcha, residente em Minas Gerais, dona do heterônimo Me Morte, registrado na Biblioteca Nacional, escritora, funcionária pública e cidadã cumpridora dos meus deveres e ciente dos meus direitos. Tudo isso para dizer que NÃO AUTORIZO a publicação de nenhuma linha do que escrevi e que a intransvista se encerra aqui. Motivo: relendo percebo que as perguntas estão sendo conduzidas de maneira sensacionalista, fato esse que venho combatendo com todas as forças há anos no jornalismo, tanto impresso quanto televisivo. Agradeço a oportunidade, mas não preciso disso. Abraços, Mariângela ( Me)
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transanonymous: não tava sensacionalista... é uma boa divulgação do seu nome. que. se confunde com a falsa propagação, tanto é que, adversivamente passional, estou. permitindo que dialogues comigo também, desde o começo o clima ficou de. bate papo, se partiu pro barraco foi coisa espontânea, juro; admiro tanto seu. trabalho contra. a pedofilia e o apoio que concedes em nome dos desaparecidos, seu. incentivo a. novos escritores, seus contos (como aquele último engraçadíssimo do. cara que se. corta na garrafa); podes crer que tou aqui pra trocar algo, idéias, gostos, opiniaums, podemos divergir dum monte de coisa, mas isso só vem a. colaborar com. nosso fortalecimento intelectual... não sou melhor do que vc por. ter dito qualquer. coisa que a tenha ofendido. vâmo?. abração!!!..........................
Me Morte: cara que se corta na garrafa? cara, vc bebeu??? ahahahahahaha faça como quiser, vai ouvir falar de mim... abraços
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transanonymous: por que a, também alegre, mudança de um porto para um pouso? pensei o contrário... que tu era mineira e morava em porto... como é aí?
Quanto tempo faz que tenta comer quieta? hehehe... abração!!! .........

Me Morte (via mensagens de orkut): Ta rolando pela net uma suposta "intransvista" da Me Morte, uma montagem grosseira feita por um cara sem talento, que quer pegar carona no sucesso da Mezinha aqui (não digo quem é para não dar audiência a mau caráter). NÃO É VERDADE! A única intransvista que dei foi para o Bar do Escritor no ano passado (a outra é balela)..............Não dê audiência para sensacionalistas baratos, leia somente jornalismo sério. Beijos Me Morte
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16/07/2008

saindo das ruas

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__ Com licença moça, você já conhece a revista Ocas"?
__ ... tou atrasada pra reunião...

Era uma noite de lua cheia: da rua Augusta podia-se presenciar rotineiro happy-hour universitário prolongar-se em alcoólica paz; sob encanto de desconhecidos (e bons) olhos, alhures, Ricardo reapareceu em sua no-peu ordinaire esquina. Na primeira vez ainda não havia ameaça homeless, embora alguns albergues tivessem sido devidamente mapeados, sendo o Arsenal da Esperança descrito como menos ralé. Nesse segundo encontro já ciceroneava na boemia paulistana os pedidos de uma ex-ficante da ong atitudE!, portanto não foi por causa de sua vinda que essa época não foi fácil nem feliz para dividir aposentos com desconhecidos como ex-presidiários, aleijados fim-de-carreira, antigos figurantes da globo, michês decadentes e demais malucos abandonos senis.
A primeira menção à revista foi transmitida aos ouvidos do futuro chão de um já tradicional psicodrama. Percebia-se o fôlego de incentivo oculto por trás da divulgação do material, não que se tratasse de um típico brainstorming ou manjada maneira de usar mendigos para distribuir nova idéia de riquinhos revoltados (a favor dos menos favorecidos), tudo em sociedade surda pro espectador que desceu ao sub-solo para melhor conhecer aquele num primeiro momento "neo-usurpador" project.
Altas horas e Ricardo, sem nunca perder a paciência e boa vontade, explicou mais uma vez do que se tratava aquilo que certa vez Soraya, Jeremias, Frei David e Marrocos disseram não ser uma ong e sim uma oscip. Na verdade, além de ser uma organização civil de ação social, "a revista nasceu do encontro de pessoas e grupos que articularam desde 1998 para viabilizar a implantação de um projeto de geração de renda e a abertura de um canal de expressão para a população em situação de rua. O primeiro encontro para a discussão da idéia aconteceu em São Paulo, na sede da Rede Rua. No Rio de Janeiro, a primeira iniciativa foi apresentada na PUC-Rio, como projeto piloto, em janeiro de 1999. Em outubro do mesmo ano foi feito contato com a Rede Internacional de Publicações de Rua (INSP), que indicou o projeto Hecho en Buenos Aires, na Argentina, para a troca de informações. São mais de 80 publicações filiadas à Rede Internacional de Publicações de Rua - International Network of Street Papers, INSP - signatárias da Declaração das Publicações de Rua (The Street Papers Charter, na internet em http://www.street-papers.org/).
Ocas" é uma revista vendida exclusivamente por pessoas em situação de rua, que têm nesse trabalho a chance de mudança efetiva em suas vidas. O resultado decorrente da venda da revista - ficam com 2/3 do preço da capa - permite que estabeleçam novos contatos, ampliem seu círculo de relacionamento e dêem passos rumo à autonomia financeira e saída da situação de rua. A revista tem temas culturais, políticos e sociais, com vendagem executada exclusivamente na rua. De periodicidade atualmente bimensal e de circulação, a princípio, em São Paulo e Rio de Janeiro, a publicação também reserva espaço para a expressão das populações em situação de rua e aborda problemáticas relacionadas ao tema. Com essa proposta, ao mesmo tempo em que coloca o debate na agenda da sociedade, a oscip (organização da sociedade civil de interesse público) promove a autonomia financeira e fortalece os vínculos comunitários das pessoas em situação de rua.
Após tomarem conhecimento sobre os objetivos do projeto, os vendedores (maiores de 18 anos) recebem uma credencial e 10 exemplares gratuitos para iniciar o trabalho. A partir disso, passam a comprar cada exemplar por 1 real e vender por 3 reais."
Chegando à sede do Brás, a alta cúpula lhe cede um gravador de voz e câmera fotográfica para registrar a estória de cinéfilos dorminhocos. Nas primeiras reuniões de sábado quem manda e desmanda na revista são moradores de rua e/ou sujeitos em situação de risco social. Cada elemento é imbuído de trazer mais vitalidade afim de prosperar tarefas de inclusão. Nas reuniões o clima não é gelado e não há adversidade e/ou desigualdade entre ricos e miseráveis. As cartas são postas na mesa, analfabetos têm oportunidade de aprender uma boa soletração de tímidos textos. Não-falsificadores votos são feitos na hora em que uma psicóloga vinda dos pampas fuma num cachimbo e o Snoopy expressa intenso desejo de entrevistar os dubladores do Chaves & Chapolin Colorado, nem que isso seja a última coisa que ela tenha que fazer na vida (!) [onde anda o Snoopy? A última aparição de sua dentuça alegria foi notificada no albergue da Baixada do Glicério (onde é possível ser expulso em se mandando descasos de funcionários à puta que pariu)]. Deduzidos de desacordos anti-formais que não surgem do nada numa pesquisa com universitários das UNIs da vida, há filmagens de espontâneos preparos de evolução/regressão. Se alguém pegar no seu pé e/ou apelidar-lhe de retardado, certifique-se de estar sem uniforme quando tiver de acertar as contas. Não há desacordos muito menos brigas sangrentas na sede. É tudo alegria e curtição, tudo que falta de remorso sobra em festejo, regado a muita manguaça e comidas típicas mineiras na poesia da Pilar... Se Josoel misturar psicotrópicos com cerveja a Maria Alice o advertirá dos efeitos colaterais transatos. Só o que vale nas festas é o lado bom e leve das coisas benquistas nos recitais do sarau do Espaço Cultural do Zé.
Ainda na sede, reencontrando a temível condutora do psicodrama, é possível conferir como se faz uma boa distribuição de energias entre vendedores... É preciso saber observar - disse a charmosa madame, sabendo como ninguém olhar no fundo dos olhos mais reclusos sob pálpebras da vida (marginal). Ex-alcoólatras, ex-flanelinhas e (i)migrantes disputavam a atenção da "não-cruel mãe de rua", ilustrando o perfeito mosaico de perdedores oficiais da cidade grande (TODOS já conhecidos por este que vos escreve) que, reergendo-se, são captados para digno treinamento. Aprende-se a vender a revista sem dizer que ela ajuda moradores de rua, pelo menos num primeiro momento de interação pois, segundo fontes de boca de rango mais seguras, a tentativa de compadecer clientes não credita a entidade com 23% do respeito desejado; invariavelmente dedos apontam para relógios enquanto lentes de contato verde-água semi-desfocados olham pro nada, tentando despistar de vista a cara de cachorro/cadela abandonado(a) do rosto do(a) vendedor(a), através de fugazes recusas, contrárias à mais bem intencionada (falta de) salivação. No Masp até ouvem um pouco o bordão, mas é na frente do Centro Cultural São Paulo que se aprende a não falar sozinho e/ou mandar à merda quem não pára pra ser malhado, proposta infalível, pois os clientes tornam-se mais simpáticos e corteses quando tratados com igualdade... É claro que é proibido usar crachá quando vosmecê decidir brigar com um vendedor de poema que se acha dono do pedaço; tem também aquela mulher que mede a pressão, entrevistadores do Ibope, artesãos, fora pipoqueiros, a fofão e seguranças que confundem privado com público nas calçadas (não mande o presidente do CCSP enfiar pimenta no cu). Urge sobretudo boa entonação pra render os primeiros rangos sem valium, já que nos albergues das pastorais judaico-cristãs é de praxe aprender a dormir com um olho aberto e outro semi-onírico (infantis r.e.m.s de Brasília costumam piscar nesses recintos...); os pesadelos geralmente são protagonizados por post-assassinos e/ou ladrões que penam incansavelmente no subconsciente de impunidades policiais em sarjetas adjacentes ao Pedroso. Ingressando no mundo Ocas" dá pra aprender a jogar futebol com o incentivo técnico do Pupo; porventura muitos vendedores-jogadores viajaram para copas mundiais de moradores de rua - decisões finais já ocorreram na Dinamarca e África do Sul, nesse ano a partida será na Austrália. Atores aspirantes e/ou amadores podem receber aulas com a trupe do Teatro do Oprimido; também tem aulas de informática e incursões pra FLIP de Paraty. Os mendigos mais nouvelle vague surpreendem-se com o discurso cultural dos vendedores mais nego véios, alguns jornalistas, outros estilistas; no entanto os comemorados "tudo ao mesmo tempo agora" são mais confirmados colaboradores. Há um clima de competitiva harmonia pelo carinho da Pilar, apadrinhamento camarada e oOoôoOos do Zeca, nunca desistente reciprocidade do Ricardo, filosofia de botequim do Josoel, experiência de vida e responsabilidade do Marcos - que controla as vendas da revista -, tem até vendedor graduando em química em universidade pública.
Num belo dia de abordagem dos alunos de direito da USP, uma menina do DCE perguntou se a Ocas" tinha contato com o que ela chamava de "líderes de rua" - não apenas os caras do PCC, Comando Vermelho, Gaviões da Fiel, Cyber Cangaceiros e demais brandas-facções terroristas-tupiniquim. Segundo ela, só a violência acaba com a violência, só uma ação genuinamente de massas unificadas apartir da base mais baixa e dialogada com lumpem-proletariados poderia suprir a necessidade não-eleitoreira de um entrismo apartidário. Mesmo concordando com o aspecto conflagrador de sua nobre missão, a melíflua menina de cabelos caramelo de pontas louro-encaracoladas, diferentemente dos 91% que passam rasantes à oferta do produto, comprou a Ocas" e desistiu de articular um enlace de caráter inter-contribuitivo com organizadores (muitos deles alunos da mesma faculdade) de proposta de mudança mais miscigenada. Segundo as mais em voga elucubrações trotskystas da universidade em questão, há um desmembramento geral das táticas populares que enfraquece a neo-esquerdalha filha de 40 anos de acordos espirituais semi-clandestinos assinados em presídios e calabouços do DOPS. Será que a menina caramelada sabe que o poder paralelo está a engatinhar estagnações mais s/nossaum than CPIs-passatempo?
Aspirando novos ares, estourando a ruptura imperialista ou não, transigências de consciência mais relutantes, filiando-se ao "cada um por si" em grupo, encontram horizontes-possibilidade no Rio de Janeiro sem que o rapa se preze à demasiada agressividade de não-finas expulsões. Albergues oferecem oportunidade de emprego, dá pra dormir de bouwa nos mocós da Mangueira e São Cristóvão; mas é na Ocas" que toda uma recepção fagueiramente familiar disponibiliza mecanismos de auto-transformação aos batedores de rango do restaurante Garotinho. É tão bom trampar por lá... Em frente às celebridades do Cine Odeon e demais pontos de venda o ar é fresco, a orla do Flamengo e da Glória oferece boas desculpas pra refestelantes cochilos pós-leitura obrigatória do vestibular doutra cidade. No bairro de Santa Tereza tiroteios das favelas vizinhas são abafados para a composição de primeiro poema pós-lágrimas dum retiro espiritual, tudo em meio ao abraço de repleta natureza. Na sede eles tiram foto pra carteirinha e o click registra inesperado momento de dentes acavalados... Os vendedores são todos sangue-bom e vosmecê pode ajudar um deles a conseguir vaga pra não dormir numa fazenda comunitária; é tudo surpreendentemente apaixonante, dourado... Preta Gil e Bruno Gagliasso dão gratuitos closes em Ipanema enquanto Bentinho é chifrado, chegam os paparazzis e vosmecê sai na capa da imprensa marrom... ah... nada como um legítimo açaí na tigela e/ou suco de clorofila que gentilmente esquecem de te cobrar (raridade em se tratando de cariocas); uma balada-show-rave com Cordel do Fogo Encantado e vosmecê dançando com Camila Pitanga e Leandra Leal - tudo em menos de um mês... Os palavrões vão cedendo lugar a escancarados e trincados sorrisos, que aos poucos vão retorcendo, arregaçando e impregnando lábios inferiores pra aparição de gavetudos arraxtuix de sotaque. De volta ao terminal Tietê, a morte. A pressa.
Só mesmo um bom e velho filme hippie na Cinemateca e/ou luz silenciosa pra recuperar o zeitgeist recém abandonado duma fuga #3 pois, sendo esquecido o livro de amiga-atriz no armário do CCSP, o regresso teve de despertar no coração do distante vício por um ar superpopulosamente resignado às cinzas pombas do sufoco... Eram dramaturgias de Plínio Marcos? Ou Bukowski?... Bom, volta-se a malhar na academia do Garrido, fazer terapia em grupo e reobter permissão pra tomar banho na casa de transformista não-umbandista muy solícita às indomesticadas queixas de los más olvidados do Largo do Arouche. Arrecadando cerca de r$60,00 com diárias vendas da inseparável revista (vosmecê será pra 100pri lembrado e chamado pela alcunha de Ocas"), pode-se dar ao luxo (sic?) de pagar o cursinho popular da Afrobrás; voltar a comer saboroso rodízio de sushi da Liberdade num restaurante onde a turma do circo é recepcionada sem ser discriminada; um Tuc´s por r$ 0,50, raiz forte, leite de soja... Na locomotiva do Brasil é aconselhável ter muitos e diversificados compromissos pra não bater ponto todo dia com Soraya no café da manhã do Penaforte e nos também for free chás de canela da paróquia interior do largo São Francisco, sob auspícios da irmã Catchusca (freira cantora fã de Cássia Eller) e encaminhamento de novos albergados by Gertrude Stein, assistente social loira de olhos azuis semi-cegos e sorrisos sinceru´s.
Aos poucos a carreira de poeta vai sobrepujando a de indigente com boa causa, ou vice-versa, numa tradução livre... É possível vender revistas na praça Benedito Calixto e perguntar pra Marília Gabriela se o namoro com Gianecchini era de fachada e/ou examinar se há traços de passado groupie através de rápida conversa com Clarah Averbuck; depois o sujeito não pode dormir no curso de análise poética do Marcelo Tápia na biblioteca Alceu Amoroso Lima - oficina essa cuja influência trará à tona observações fluido-concretas a respeito do aparente conteúdo de poemas como "liqüidificador" e "ar condicionado". É vocação/talento/dom para a arte a válvula de escape entre infinitas oportunidades a um espírito anarco-cosmopolita? Ou a militância transcendental foi pra liga profissa sem aviso prévio? O que na verdade rende novas amizades fictícias pode ser desculpa para voltar de vez ao batente da hiper-exposição. Na rua rola muita troca de informação, aprendizado com metafisicu´s 69´s também. Futuros famosos de índole mais pública do que atuais dirigentes da nação te oferecem uma parte da vida e vosmecê poderá dizer que um dia eles estiveram em situação de risco social, veja bem. Maitê Proença e Lobão são testemunhas sem alzheimer que confirmarão passado sofrido que justifica um enraizado sucesso. Gravem o nome dos vendedores, eles prometem despontar num movimento verossimilhantemente transmaloquêro, a confirmar.
Amanhã será um novo dia alto-astral, é preciso tirar muquiranas e piolhos de galinha do leito público; tomar bom banho de descarrego para uma libertadora limpeza espiritual; recarregar o celular; desprorrogar compromissos; lavar roupas 18% mofadas, meias chulezeintas, mudar-se pela 44ª vez... boa noite...

__ ...brigada moço, soy una seguidora do Jamelão, boa sorte.
__ Viva forever...
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11/07/2008

impressões interiores

Quem era aquele moço semi-nu na resenha da Mix Brasil? Poesia ainda era algo estritamente diletante antes que meu primeiro e-mail lho fosse enviado, solicitando seu trabalho. De vez em quando eu recebia edições independentes dos peculiares versos que, agregados a escritos inéditos, culminaram no livro "Poesia Gay Underground: História e Glória" - lançado pela coleção da DIX editorial, da editora Annablume.

Como todo bom artista, biográfico, ele tem estilo às vezes elegíaco, ou escatológico...

Foi no ano de 2006 que comecei a acompanhar sua paidea interior de personalíssimos frames. Procurei sempre não me ater apenas a seu aspecto gay, pelo fato d'eu não escolher preferências culturais segundo rizomas classificatórios que emaranham patrimônios intelectuais de maneira que muitos leitores deixem de considerar material de qualidade. Hugo Guimarães perpassa o gênero LGBT com uma complexa designação narrativa, bem resolvida, objetiva e pouco barroca. É nesse ponto que, provando ser um poeta que transcende em vida - segundo ele próprio diz em um de seus poemas - ele classifica e modifica as coisas ao seu redor, sempre atento ao que deixa guardado para um documento futuro, quando os signos em questão estiverem pasteurizados no resultado final do leite de suas ruminações, mesmo que ele diga já ter bebido todo o conteúdo possível...

Sua divertida e aderente maneira de expressão pode ter seu lado mais profundo despercebido. O que ele tem de tradição e ruptura é uma voz blasé, de beesha ativa (literariamente falando), decididamente pragmática - nisso semelhante a da portuguesa Adília Lopes; voz essa que, sempre rebelando-se contra cada verso anterior, surpreende e enterra uma idéia que nem chegou a esfriar, embora ainda formalmente ligada à proposta geral do corpo do poema (93% das vezes uma mini-estorinha).
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"Eu pus uma garrafa no meu cu
Para se uma mente suja tentar
Dizer alguma merda
O som morrer.

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Meu cu viajou para um lugar longínquo
Eu disse que ele era um planeta morto
Mas agora eu digo que ele só está em processo de beleza
Ecoando, sozinho e lindo."

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Sem prejudicar a compreensão da leitura, a duração dos poemas reflete o suicídio involuntário da moral, como se estivesse de cabeça pra baixo, aquilo que uma vez o poeta disse ser impressão interior é na verdade a derrocada de arquétipos aceitáveis em uma sociedade hipócrita. Como sob uma pele de pobre mística, que vai sendo arranhada e marginalizada, vemos o esqueleto de sua libertadora, construtiva rima interior, bem-humorada e jamais fosca. Nem mesmo seus pais escapam, um tema recorrente, como se estes fossem os filhos, analisados e redirecionados, sem pudor, a uma superação trágico-cômica que usa e abusa do Édipo, ao longo de raríssimos constrangimentos. Resolutamente lamentado, o patriarcalismo é visto através de fracassados sujeitos sob um céu de estômago. Hugo está longe de se sentir culpado por um amor mal-consumado.
Nessa particularidade o artista mais do que nunca demonstra que, embora ainda muito jovem, já está acima de qualquer suspeita formado em base firme. A problemática familiar não tem a gravidade sugerida e sutilmente camuflada nos dramas pessoais que tanto adoram explorar e (semi) divulgar relatos da vida real no labirinto do desejo do ego. O amor é tratado em diversas camadas, (como nos graus de 1 a 5, segundo a psicologia) Hugo Guimarães não só sabe que todo homem tem tendências homossexuais, como também ri e cobra por isso. O tesão mais enrustido não lhe escapa, sendo arrombado e repercutido em todos os outros teores sexuais ainda idealizados, porém já antecipadamente fadados em seus amantes.


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"Pit boys
Vão me espetar numa cruz
Vou gozar mais
Ou menos?
"
 
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A frustração não deixa-se seduzir por um alegre pessimismo, saudável: nesse ponto encontrando uma espécie de iluminação nietzschiana, estabelecendo um lugar comum aos famigerados e ridículos apelidos a um derredor de ratos, TV, sadismo, peixes, perspicácias dos intuitos aspirantes ao sucesso... tudo visto por olhos que, sentados e tranquilos, como num trono, vão ordenando o desfile das ilusões rumo ao abismo.
Poderia ser um bestiário fisiológico a contribuição de seu chocante álbum de imagens. Segundo o que já disse uma análise anterior, seu bom gosto não crê na etiqueta culta e ascética. Sendo almodovariano, inusitado, ele cria culinária nova.

O sabor e o peso do concretismo é seminal, gelado, levado nas costas, quando ele não está a doá-lo aos garotos ao contrário (falsos héteros); drenando, secando e petrificando-os o poeta se vinga dos baixos graus de homossexualidade com uma fina malícia subtextual às coisas mais prosaicas e/ou rotineiras, como um simples chek-up.
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"Eu disse à mama 'tchau' e ela disse 'boa sorte'
Eu fui ao médico e ele era lindo
Ele era gentil, ele tocou meu joelho
E eu disse 'quer casar comigo?'
Ele estendeu sua mão e me disse que a vida é linda
"


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Se vemos o mais alto grau de afetação típico das bibas que freqüentam a buatchy A Loca, Del Candeias poderia cair de amores e introduziria o ainda pouco conhecido poeta no mundinho literário em uma jornada pelos tipos mais bizarros da noite urbana...

Seu lado espiritual também é exercitado, andando com um "cavalo no pescoço" - Platão lhe segue, todo arregaçado. Abusando e logo descartando as figuras de Jesus Cristo, Lúcifer, Bob Dylan... Todas suas influências o acompanham de modo pouco óbvio, tanto é que sua escolha por um cardápio mais carnal e auto-narrativo oferece um passado literário, como em filmes de terror e rock n' roll, apenas na forma de mera colagem contribuitiva, entendendo o "cavalo" no sentido nagô/iorubá/caboclo sem explorar total uso dessa entidade em pastiches psicográficos de um paladar lingüístico já inadequado e rapidamente arcaizante das escolhas e montagens imagéticas exteriores.

Ocultando e digerindo os já manjados mecanismos de sistematização da vida poética em um novo, pós-moderno e desbravador EU lírico, trilhando uma promissora e renovadora voz que, tendo rompido até com seus pais, é acompanhada na sua busca no decorrer do livro, aqui não há a simples e recorrente falta de escrúpulos e fé: ele vai além da formalização de acidulantes paganismos estéticos, a desenvolver desse modo uma doce crueldade no ponto G para o sincero envolvimento meta-pessoal com o leitor, afiado na perfilação de elementos e estados de matéria, devidamente assimilados e citados ao meio de uma proeza orgânica de relacionamentos brutos.

Além de ter a herança artística no pescoço; o óleo no ar; o cérebro de ar; o rato no cu; o cu verde; o já comentado sêmen de concreto; a vagina nos olhos; os joelhos secos; guitarras masturbadas; bonecos de lama; junto com os garotos ao contrário e os pit boys aparecem os garotos migrantes, os garotos pop, cocô; a história do pau...

Há de se notar também um clima teatral em suas questões e jogos de relação fetichista, os heteros e o mundo normal são vistos por um crivo de observações neo-rodrigueanas, deixando passar apenas os segredos sexistas (-por um triz-) e as despóticas-afetividades, esquecidas de bom relato há tempos na literatura brasileira; enquanto a maioria dos poetas insiste e esforça-se pra esconder seu lado inadequado, ele faz questão de armar cenas que exageram periculosidades sentimentais com uma mordacidade que Ana Rüsche ainda não foi capaz de exprimir, prestes (e para a alegria das diferentes opiniões) a desfazer-se perante a bondade pueril de aguardada aproximação alheia...

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"Reage meu assalto
Aperta meu saco
Eu escovo seus dentes
E misturo pasta quente
Quase caindo da sua gente
No teu punho tem corrente.

e aperta minha mão
Aberta minha mão
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Eu vou entrar
No seu lugar
"
 
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O que consta parecer uma rima óbvia e fácil é desculpada pela distante verdade; perto dele ela é recebida com carinho e com a possibilidade de transformação que todo espírito aberto às solidões alheias pode aceitar, lançando à extremidade de seu pensamento trocadilhista uma maleabilidade de relação com o outro, a ressaltar assim pontos positivos em vantagem à poesia trancafiada das geografias abstratas, que não dispõe de saídas em um mundo pessoal penoso, exagerado, glamourizando a dor. Por isso Hugo Guimarães não se afoga em típica afetação, não sufoca sua riqueza vocabulária com um vazio exteriormente existencial. Lendo todo o livro nota-se uma progressiva melhora e abertura do gênero em que ele escolheu lançar-se.
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"É noite na água
Eu odeio salva - vidas
Sexo não salva
A queda de uma rocha no mar
"

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Tomara que ele não ceda à armadilha de cair na própria caricatura, de maneira que possa continuar evoluindo sua arte.

http://hugorguimaraes.blogspot.com/

CopyLeft 2008 by Andróide

30/05/2008

linguagem bege


Aula de poesia contemporânea: cada aluno deve trazer poesias que admire, de 1960 pra cá. Não pensei duas vezes quando levei "Pintura expressionista", poema que dá uma breve idéia de sua proposta e parece ser resposta a poemas que uma vez lhe enviei. Estavam no páreo Adélia Prado, Orides Fontela, Caio Meira, Paulo Ferraz, Claudia Roquette-Pinto...
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Minha poeta foi a primeira a ser analisada. Érica Zíngano deu a partida, dizendo-se não convencida. Começo a ficar nervoso, replico-lhe que minha escolhida não utiliza violência branca, e sim linguagem branca. Érica publicou poemas na revista ZUNÁI onde não só usa, mas menciona uma violência silenciosa do mundo. Me explico: a linguagem de minha ré lembra-me uma pureza descontextualizadamente diurna/ teologicamente cuidadosa/positiva-racional, diferente dos processos de sucinta secura sexy da Érica (também gosto...) - que, contrariada, recomendou-me um filme onde o paraíso na terra é todo branco, inclusive em prateleiras e produtos de supermercado, e não deu-se por vencida. Assim, para o meu azar, os demais entraram no embalo. Andréa Catrópa, ministrante do curso, disse que cada poema deve refletir uma vida inteira, um mundo, às vezes isso resulta em prosa poética, o que eu admiro e encontro em seus poemas, de uma temática, linguagem e posicionamento diferentes dos de Beatriz Bajo. Tendo seu blog sido lido por ela, que disse ter visto em Beatriz a postura da geração marginal na forma direta de lidar com o leitor, eu concordo se isso significa o poeta que, completo, se coloca na vida. Porém, meio escandalizada, Andréa ainda disse ser masoquista as combinações da palavra "esquartejada" e a frase "tirar-me toda a pele" no corpo do poema.
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Será que há uma linha moral vigente nas atuais diretrizes da crítica brasileira? Se formos entender a poesia ao pé da letra, não só Beatriz, mas uma grande leva de bons poetas estarão promovendo um holocausto... Poetas são apenas serial killers, malucos, bebês chorões, frustrados, vampiros? Uma psicóloga, colocada, entrou na onda, mas foi só eu prestar atenção em sua análise para que seu tom clínico fosse metamorfoseando a um discreto elogio, à revelia, desistindo da idéia de deitar minha poeta em seu divã. Victor Del Franco disse que minha admiração poderia estar equivocada. Os demais alunos limitaram-se a vagos palpites, talvez sufocados pela opinião geral.
Onde eu fui parar?
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Talvez rindo de tudo isso, com uma voz elevada e decidida, sem acentos extra-dramáticos, minha "esquartejada" guarda suas armas brancas para um rubro desmazelo sobre o leitor. Não há preocupações e impressões demasiado exteriores e/ou contextuais na poeta do amor. É a essência X forma, o conteúdo X o vaso.
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Meus colegas certamente perderam a chance de descobrir seu sentido mais completo em poemas como "Sempre estivemos", "Tac táctil", "Que Truque!", "Água guardada" - os quais confirmam que ela não está de brincadeira.
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Beatriz nasceu com o fêmur deslocado da bacia e usou um aparelho que dificultava sua locomoção em boa parte de infância, o que a estimulou a começar a escrever trovas, letras de música e textos dramáticos já com 9 anos de idade, passando o tempo que impossibilitava maiores movimentos do corpo. Nasceu em São Paulo, tendo se mudado ainda criança pro Rio de Janeiro (seu sotaque é carioca, hehehe...), onde graduou-se em letras pela UERJ. Atualmente é aluna especial em mestrado na UEL e professora; contribui em diversas revistas eletrônicas como poeta, resenhista e contista, tendo sido vice-ganhadora de concurso para antologia poética muy respeitável. Ela diz ter sido fundamental para sua formação o filme Sociedade dos Poetas Mortos e uma oficina de poesia que fez, ministrada por Marcelino Freire.
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Conforme os poemas que publica em seu blog pelo pseudônimo de Linda Graal, depreende-se que o sujeito de seus devaneios não posiciona-se como vítima: têm-se a impressão de algo sublime, livre, nem urbano nem rural. Soltos encadeamentos de pulsantes e transbordantes imagens sobrepujam uma tímida biografia. A transcendência é ponto de partida dos primeiros versos de sua personalidade, e não o objetivo final; assim não nos é permitido verificar a ossatura de seu lado B enquanto ela vai escolhendo as palavras que veste e dá vida, processo que geralmente acontece nos poemas que dão mais valor à experiência.
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Sua linguagem não é bem branca, diria que é bege, mistura de pele, areia; desmaio de uma maturidade serena; equilíbrio, independência, elegância e controle emocional; crepúsculo espargido sob as franjas de um horizonte-possibilidade de nacaradas conclusões. Não somos agredidos pelas "educadoras" e às vezes brochantes imagens atuais. Sendo assim, suas palavras agradam, sua fina superação poética esboça alusiva resposta (sem sair de seu mundo pessoal) à profusão de vanguardas e grupinhos contemporâneos em "Ave mocinha" e também no abraço final de todos poemas, fardo encarado como exclusivamente íntimo em seu modo de conversar com um interlocutor sempre presente, ora recebendo parte do "mal-estar" da atualidade, ora distante - porém compreensível em suas ansiedades:
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"Enroladinha
preparo-me um cativeiro
gaiolas de goelas
de engasgados amantes
querendo seio beijo bico"
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Não sendo permitido oprimir a bem-resolvida visão do veni vidi vici - sensação que acompanha a fisionomia dos valores de seu EU lírico - a impressão que temos da maneira da poeta encarar a vida não diria que é marginal, mas sim à margem da relação com o outro: verdadeiro mote de sua triunfante e planadora pesquisa.
Atuais poetas poderiam julgá-la de alienada, inatingível. Todavia seus objetivos não são didáticos, sua delicada e inovadora verve que "come borboletas" passa a impressão de estar em um nível onde o intuito das coisas que a cercam não representa novidade:
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"Assim que se deitou
Sobre meu pé tão delicadamente
Trouxe-me algo de fenda
Algo de talho, latente
Entre os batentes da minha janela
Adentrando pelos basculantes
Roendo as sementes"
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Exatamente por isso, arrisco dizer que Beatriz é uma poeta que vai "ficar", esperta o bastante para desconfiar de duvidosas preocupações por uma poesia mais popular e inteligível aos grandes meios, às vezes sem a alma de suas formas abertas, contrastando com uma lógica mais sentimental e restrita, à espera do devido reconhecimento, que não tardará em chegar.
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Feminina, despretensiosa, inebriante e cristalina, sempre trilhando o caminho da simplicidade, sua criativa metafísica é ligada por abundantes conjunções, único e aparente lugar a uma dura realidade que não a encanta. Cada vez mais despedindo-se de ingenuidades decorativas e/ou discursivas, seu verdadeiro diferencial é mais baseado no arranjo de sobreposições imagéticas do que em indefinidas aventuras sintáticas:
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"é alma
a febre de corpo
temor de esquecimento
é alma - junto com a tua -
o vôo cai em delírio
@laúde como abraço
leve - em lava - alma
a deslembrança é o corpo a mentir a febre"
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Inquestionável, o que se vê como obra incompleta e ambulante é vista de cima, sem que se perceba, por olhos distantes e críticos, não se esforçando em convencionar um encontro de verdades. Como possível amigo que, inviável o contato, se prende em palavras de impacto, o amante e o amado recebem mais e mais confissões do desterro poético que, recuando, meio bruxo (no bom sentido), não faz nada para recuperar e/ou repetir um tempo, um caso perdido.
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Sem performática concatenação entre poemas semi-livres, porém sempre com começo, meio e fim bem urdidos - de singulares e às vezes estreitas aliterações e assonâncias; fluidos concretos em rima; atos funil - sua mensagem, romântica, crê na forma estabelecida no sentido da criatividade interior, sendo salva pelo que lhe falta e irritando quem espera algum poema denúncia ou lamúria por demais óbvia.
Aindo digo que trata-se de algo terapêutico, que faz bem mesmo, é uma leitura agradável e muy pessoal, um brando roubo de fôlego: verdadeira meta do poeta lírico, há muito tempo esquecida.