Foi
taróloga mendiga quem decretou: professores de teatro que também
são atores não têm alunos, têm possíveis rivais. Para
de ser doida! Antes de tirar ovo do cu e redigir fake news neopentecostais, toma 16 banhos de anil, tapa
umbigo com esparadrapo, carrega terço e ônix no bolso esquerdo,
José, Ricardo, João, Rodrigo, Jackson, não minto, Odoyá, vela de 7
dias no sábado.
Foi
um ano pra quem acredita em calendário, signos e fiasco. Na área
das artes dediquei-me mais às cênicas do que às literárias:
inveja mais próxima, arrivista e/ou competitiva suja, fez com que eu
melhor avaliasse certo ímpeto meu em heroicizar a figura do professor - palavra que sempre brotou no peito, doce, indagativa. Os
bonzinhos se fodem durante a maior parte das novelas mexicanas. Já
em Terradois Jorge Forbes apresenta bastidores de esforçados tramando contra talentosos. Abstraí, tirei o ovo da camisinha e não
fui selecionado. A italiana me deixou nervoso e uzoiudo mandaram
zica suficiente pra rachar bendite frute.
assim
como poesia
vida é uma questão de sorte
vida é uma questão de sorte
Esse
ano já limpei vidros, liguei pra sensitiva e fui atendido. Fui
figurante principal de comercial; fiz cortinas com as mantas de
doação; doei sangue; troquei chuveiro pela primeira vez na vida;
contemplei mendiga arrumando cama, com todo cuidado, pruma boneca
branca e loira; içei velas para o nada que nina a morte.
nome
completo e data de nascimento
Tudo tem seu lado ruim.
Continuo sem dar mínima atenção a quem gosta de chamar atenção (e isso não é uma coisa boa, segundo minha homeopata). Não consigo disfarçar risadas de deboche (lembro-me da freira de Huxley, que de repente gargalhava num momento sério, ecumênico), minto que é de nervosismo que rio da incompreensão alheia, nas ruas: por que não param de ficar me olhando? Toda vez que estou triste, ansioso, depressivo, observam meus pensamentos, estão no futuro ou passado, eu sempre (preso) no presente, irrelevante, desempregado: banho de anil indiano; rosas brancas e vela branca de 7 dias pra Iemanjá; filho de Jesus; Bíblia aberta no Salmo 66; Oh! Deus glorioso! Abençoe este alimento!; já gozô?; alfazema em sinal de cruz; 10 Pai-Nossos!
(cri
cri cri...)
Sento
no degrau de granito meio podre e sujo de cocô de pombos. Pés no
irregular relevo de pedras portuguesas. Vou revezando posição do
tórax, ora curvado pra frente, ora recostado na cortina de ferro cinza de tinta e poluição. Nessa última posição, principalmente, quando pedestres se aproximam na tentativa de falar merda e/ou
xingamento/opróbrio indireto à minha cabeça baixa que tenta se
concentrar no smartphone. Costume bastante corriqueiro. Conversam normalmente mas à medida que se aproximam de algum
depressivo, cabisbaixo, fechado em seu mundo, vão acendendo o brilho
perverso do olhar e gradativamente aumentando volume das matracas, para que culmine d'ele levantar cabeça e dar atenção e/ou compreensão anal no exato
momento em que vão falar palavrão e/ou limpar nariz. Nesse exato momento em que
escrevo, um mendigo à esquerda não para de me fitar. Como estou com
o rosto perpendicularmente virado a seus olhos, ele pensa que não
estou percebendo, ou seja, desconhece o que seja visão global. Mais à
esquerda, no mesmo degrau que ele, a mendiga que nina boneca ainda
não xingou ninguém, não gritou suas imprecações às sombras
platônicas dos transeuntes. A equipe que distribui comida fica
olhando pra minha cara bem daquele jeitinho que detesto: misto de
espanto, inveja e atração, tipo de olhar presente na minha vida e
com o qual não consigo me acostumar. Só faltou eles perguntarem "O
que você quer?" pra minha mão estendida. É uma daquelas
equipes de brancos classe-média descendentes de imigrantes do programa de clareamento, vindos do ABC Paulista para fazer caridade
seletiva. Faz bem para o ego deles doar sopa aos pretos e pardos;
fedorentos; maltrapilhos; bêbados; retirantes; fodidos; cheiradores de
thinner; soldados desligados do exército; presidiários libertos; forçados foragidos das galés; chantagistas; saltimbancos; lazzarani; punguistas; trapaceiros; jogadores; maquereaus; donos de bordéis; carregadores; líterati; tocadores de realejo; trapeiros; amoladores de facas; às muié de ocupação (com carrinhos de bebê cheios de
marmita e uma aleijada que às vezes esquece, sai da cadeira de
rodas, mas imediatamente é repreendida pela mãe, conhecida na Boca pela
alcunha de "Índia"); travestis esquizofrênicas; ex-michês; essa massa indefinida e desintegrada etc. Dória fechou a Tenda, então a escória tá mais
fedorenta ainda.
(o
mendigo que não parava de me observar pede licença e faz cama do
meu lado)
pena de pombo cai à direita
"Quem
abriu esse segredo vai se ferrar muito!"
Não
sei de onde tirei tanta pedagogia em tão longo espaço de tempo. De
macumbado já basta eu, mas insisto na simpatia pela desgraça
alheia. "Você tem que tratar essa síndrome de Bukowski!",
aconselha Évelize. "Não é síndrome, é a minha vida!",
retruca Xororó. Como
vou sustentar uma trava quase cinquentona com cabeça de criança, que destrói maloca quando estou no estrangeiro? Uma
trava tão errada, burra, desmemoriada e irresponsável mas que se acha
normal!? Sorry.
6762
12
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3
Se
eu não me engano, comunicação e caos. Adorava esse número no início dos
anos 2000, signo da paixão geminiana, nunca declarada, transmutada
em amizade, apadrinhamento de seu primogênito com outro, mais yang
que eu - que de mitomaníaco feliz me transmutei num sincericida, nos
embalos de ratos da noite, loucura bem fundamentada, declarada para
ninguém, nem pra homeopata. Melhor cair fora.
983
2
Alguém
não para de tossir no quarto ao lado. Ontem aumentei muito o volume
de uma música no celular (True Colors remix), e quando vi tinha
alguém batendo forte na porta, eu tava cagando então apenas baixei o som e recebi um "THANK U!" do lado de fora. Deve ser
esse traficante árabe de dread locks que pelo jeito vive dormindo.
Acordei hoje umas 4am e pouco, se não me engano. Lavei roupas que
estavam de molho, as coloquei em cabides, para secar, em
apoios improvisados. Vesti a calça de tecido macio que comprei.
Decidi não tomar banho, grudei esparadrapo no umbigo; ônix e terço
no bolso esquerdo; camisa listrada branca e azul claro, de doação;
chinelo; clotrimix® nas unhas dos dedos mindinhos secos dos pés e no anelar do
pé esquerdo; boina cinza-claro (sexta); óculos de grau; cachecol
que era da mãe; bolsa de couro a tiracolo. Subi pro restaurante da
cobertura, tomei milky coffee, tentei brincar com gatos, mas eles são
bem arredios e vegetarianos, assim como os cães, sem viço, débeis,
opacos. Não paro de ver esses vídeos engraçados no Facebook,
depois fico massageando e pressionando músculos do bigode chinês.
Vou até a Estação Central de trens mas desisto de me aventurar, me
arriscar com poucos recursos. Volto para o hotel trazendo cosméticos
amargosos. Subo lá de novo, milky coffee e turcomena, de novo. Desço pro meu
quarto, passou do meio dia, vai começar a bater sono que impus ao
cérebro com carbamazepina. Iemanjá, minha mãe, dona do meu corpo,
traga meu grande amor sem dramas, sem brigas, traga-me um amor sem
garras depois do gozo, um amor puro e verdadeiro, um amor que tenha apenas
um rosto.
da mesma forma
xô, petróleo: é preciso interromper imediatamente futuros licenciamentos e concessões para a exploração, desenvolvimento e produção de combustíveis fósseis.