01/01/2013

encontru's

Não só cacófatos de plantão diziam ser uma noite favorável para dar fim à solidão.
Quando Genivaldo abstraía elementos de novo pesadelo as luzes brilhavam distantes e o chopp escuro era servido na boite, porém dessa vez sua arte não estava fora de contexto, e como bom apreciador da vida ele sabia que certas desculpas esfarrapadas para dar vazão à construção de castelos interpessoais nem sempre ficam registradas na história das grandes obras.

O último casal sobe escadas. Ele saca cartão de crédito ao som de “vermilion part II”, do Slipknot, tentando controlar respiração com exercícios que aprendeu no seu tempinho de aulas de clown. A fúria dos sentimentos é tão intensa que o faz tropeçar a cada passo que dá em direção ao balcão.

Balançando cabeleira loura para exalar seu doce chulé capilar --e já por dentro do que iria acontecer-- Judite apenas espera materialização dos desejos. Quando fala o valor da conta seus cruentos olhos traduzem indisfarçável aspecto da quadratura de Urano com Netuno; o índice da bolsa de valores mantém-se em alta; seguranças não estão dando close. Ela sente uma primeira gota quente libertar-se de sua flora vaginal fria. Muitas bucetas murcharam de vez desde o movimento concretista, e Judite bem sabia que o desmaranhamento de seu campo amoroso estava por vir ao devolver o cartão. Seus olhos encontram os de Genivaldo e, num golpe de mestra, ela interrompe caminho de choque nascido na palma da mão trabalhadora dele, que queria fazê-la gemer. Nos dedos bem cuidados de manicure doméstica ela tenta não estragar transferência: qualquer artificialidade iria arruinar aquele eletrizante roçar de pele. Com sua aura sob controle, na previsão de encaixe seguro, ela deixa a cara melhorar assim que o encosto militar de Genivaldo se deixa acreditar na agenda oculta dela, testando ideias de poder parar no tempo novamente, em maravilhosa operação: ele sorri. O rosto de Judite é de uma indescritível beatificação, que quase a faz desmaiar. Genivaldo diz que é do tipo que não gosta de falar sem encarar a pessoa de frente, e ela, enlevada, anui.
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Demais funcionários se retiram, globo de espelhos aquieta-se. Luzes apagam-se, cortinas de ferro descem. Os dois saem de um esconderijo improvisado.
Já encharcada de tanto júbilo, a buceta de Judite molha até contornos da calcinha de seda amarela, mas seus olhos insistem numa derradeira visão global, pois esse finalmente é o momento certo, e ela relaxa os músculos das costas. Genivaldo abre porta dos fundos. Os dois sobem escadas, entram na suíte master, se sentam em silêncio estoico. Cerca de 5 minutos depois Judite liga o rádio: toca “changes”, do Black Sabbath.

- Eu me lembro de muita coisa com essa música.

Genivaldo vira a cabeça:

- Eu também. Quantos anos você tem?
- Não te interessa. De quem vai ser o primeiro passo?
- Será que não seria melhor a gente se conhecer melhor?
- Ai para tudo, para tudo.

Judite levanta e escolhe uma estação que toca Calypso:

- Será que a lua me traiu?
- Acho que ela não é de fazer isso não, mina.
- Você ainda não sabe o que quer, não é?
- Eu quero me matar.
- Eu também.
- Mas... então?
- Minha conta de luz tá atrasada.
- O problema é seu.
- Faz um cafuné na minha cabeça.

O ritual iniciático ocorre: Genivaldo afaga com as grandes mãos (de veias saltadas e dedos calosos) a cabeleira loura e sedosa.

- Ai gatinho.
- Muito legal o corte do teu cabelo.
- Hahahahahahaha bobinho...

Mais relaxada, ela acaricia o relevo do pau (vestido) dele, que coloca sua cabeça de encontro ao peito musculoso, tatuado e com poucos pelos.
Logo ele acende um beck. Judite contesta:

- Ah não, truta, logo agora que eu tô começando a te bolinar?
- Hehehehehe...
- Não sabia que você precisava duma brisa pra sentir tesão.
- Cala a boca que eu sei o que eu tô fazêindo.

Ela percorre a mão no peito dele e solta um peido silencioso. Genivaldo prensa e ordena:

- Pega a faca.
- Pra quê?
- Tá certo... Se a senhora prefere as coisas à maneira romântica eu respeito seu método e vou tentar conciliá-lo ao meu em busca do nosso superobjetivo.
- Você é tão inteligente.
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Judite dá beijinho por cima da tora, já em brasa, de Genivaldo, depois tira roupa e fica só de calcinha e sutiã. Ele fica só de cueca. Mas de repente pânico pânico pânico:

- Calma Judite é só um trovão.
- Ai que suxto meu amorrr.

Ela se levanta e abre janela:
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- Não pode não pode não pode não pode não pode não pode não pode não pode ser: com essa chuva não consigo ver a lua, muito menos senti-la, porra...
- Deixa a lua pra lá, vamos acabar logo com isso.
- Não: sou uma dama fina e emotiva, a lua guia o fluxo da minha vida, guia o fluxo da mãe natureza e de todos os seres viventes que acreditam na força do Ser Superior. O mundo nunca mais seria o mesmo se a lua fosse vendida para o exterior galáctico, imagina, rsrs, que horror, melhor nem pensar nisso. Vem por cima.

Ela o recebe.

- Gostosa.
- Cale-se. Não está vendo que você está me magoando?
- Chupa minha pica.
- Ainda não, gatinho. Preciso ir ao toalete, com licença.

Judite retoca a maquigem. Assim que a descarga leva chuva dourada às entranhas da cidade um novo barulho de trovão a desperta, e ela volta à cama com seu carão de olhos muy arregalados:

- Se lembra daquela vez que a gente foi na casa da Gerusa?
- Cê é meio psico né? De onde tirou essa estória? É a primeira vez que a gente conversa.
- Ai você não sabe brincar.
- Vamos transar?
- Tudo bem gatinho, mas antes quero te beijar.

Judite sente de novo o valor da palavra “agora”...

Iluminação é propícia, ela coloca tapa-ouvidos para completar osmose espiritual do beijo da vida...

.Enfim corporificada, a manicure pode dizer a Genivaldo que acha terrivelmente parcial o lugar onde trabalha e pelo menos em pensamento quer voltar a morar nas margens do rio Jequitinhonha.
Há mais de 10 anos trabalhando na boite Encontru's, já sabia quem prestava e quem não valia nada. A demissão se justificaria bem com os cerca de U$ 300.000.00 que arrecadou para investir no setor de cosméticos. Queria ter sua marca famosa para a posteridade da indústria de esmaltes, já tinha tudo planejado. Sempre odiou feitiçaria, mas fez promessa à Nossa Senhora dos Suspiros para conseguir um grande amor que a desse segurança e paz de espírito

Para decolar firme e tranquilo, Genivaldo não pensava apenas na carreira de sua fé em Deus. Confiava nas coisas simples da vida, admirando princípios do gueto. Até tinha seus desejos, mas não era nada espetacular: estava de dieta e mantinha rigorosa rotina de alongamentos muy particulares.

Judite, com seios fartos e bunda ainda firme, regozija secretamente o poder. Sua buceta refocila-se na situação. Ela retira tapa-ouvidos para total entrega ao amor que será suficiente para gerar condições subjetivas necessárias, e desencadear processo generalizado que há muito queria, desesperadamente, adesivar na pele semisseca.
A pele úmida e macia de Genivaldo é o berço perfeito.



E os dois viveram felizes para sempre...

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