Ninguém
Cheguei na humildade, em um mundo escuro. Tentei fazer amizade, tentei me sentir seguro. Ninguém continuou me olhando. Ninguém me ignorou. Não sei mais o que fazer com o meu mundo real, já não enxergo direito. O tempo passou, finquei raízes no esgoto. Sou o que restou, duma versão melhorada do Diabo. Apenas sigo mais rápido, dentro da imobilidade. Nas plantas que eu molho, sem poder vê-las crescendo, podo solidões sem muita demora. Se eu amputasse as asas de todos os pássaros não seria um assassino, e ninguém me inocentaria. Mas eu amo ver deformações no ar, que me agradece com uma boa canalização de pensamentos não tuberculosos, para que eu perca contato com a ventania, e apenas assista, ninguém me carregar. Para que eu sinta a falta de sonhos no chão, que ninguém deve pisar. Como se quem estivesse dizendo adeus à ligação principal com a vida fosse eu, não mais as lágrimas, pra molhar o chão, que ninguém deu importância
22 junho, 2008
16 junho, 2008
lançamento
ato compulsivo n° 3.008.011.974
o prazer ilícito de partir ossos (mesmo que já um pouco
apodrecidos pela chuva) - as pontas que cercam
seus muros - a dor auto-infligida de abortar o outro,
colocar o outro no centro do palco que se
transfigura em arena para descarnar
a fala
apodrecidos pela chuva) - as pontas que cercam
seus muros - a dor auto-infligida de abortar o outro,
colocar o outro no centro do palco que se
transfigura em arena para descarnar
a fala
"não me reconheço"
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Minha professora de poesia, Andréa Catrópa, junto a outros poetas estará lançando seu primeiro livro... Ela é muito querida por todos...
sua poesia também...
Recital Caixa Preta
Terça, 24/06 - 19h
Casa das Rosas - Av. Paulista, 37
09 junho, 2008
(sub-sessão: metal melódico II)
...Consolação...
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Começa nas orquídeas...
: sua esperança olfativa despertou uma visita na tardinha. Ainda vestida de palhaço agora que, aparentemente, ninguém estava por perto pra se sentir perturbado por exalações humanas semi-desvirtuadas, ela funga em alto e bom som, que engraçado.
Debaixo das flores, oh! Numa pia de oferendas, entre duas rolas de mármore e encharcado pela chuva matutina, jaz um pequeno frasco de perfume francês, circundado de semi-dissolvidos suspiros e pastilhas de hortelã. Em nome de sua saudade por lágrimas, Xexereguns tira as sapatilhas de cetim bordô, solta o cabelo cor de fogo, tira as luvas de pelica e, sem pensar três vezes, pega o frasco e chuvisca o seu agradável conteúdo exótico. Sem nenhum jardineiro e/ou coveiro por perto pra testemunhar seu sutil desabafo, as primeiras pérolas de sua dor não tardam em brotar, cintilantes, perante rasgos do bom pôr-do-sol, que delicadamente atapeta o solo dum ipê roxo até seu carão. Como nenhuma atenção realmente acende e exterioriza o campo de suas margaridas circunferentes, ela lembra a vida de seu poeta preferido, deitando-se sobre sua exuberante sepultura, contígua à estrangeira:
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- Tô guardando minha voz e meus olhos pro encontro com meu amor. Não agüento mais bancar a faxineira burlesca.
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Uma borboleta amarela pousa em seu pensamento:
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- Quando eu estiver limpa, isenta dos meus problemas, não temerei em dar o azar da teoria do caos ao me aproximar do meu amor. Estou me sacrificando em razão inversa.
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A borboleta deixa sua testa e alça vôo até uma jarra de lírios secos dum túmulo vizinho (semi-abandonado pelos descendentes).
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- Lutarei enquanto existir amor, até o fim... da minha vida...
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Como uma benção, ela se sente 10% realizada: formigas levam embora pedacitos de sua voluntariosa imaginação, que tenta não se mexer e aceita o veneno amigo, estoicamente. Aos poucos se eriçando, seus pentelhos corroboram a sensação desejada, uh la la, que gostoso.
Na extrema-esquerda de seu grande lábio esquerdo, uma tanajura mais afoita atreve-se a verificar tal façanha com picante mordiscada, xô, ui ui, sai dessa xâna que não te pertence! Ai ai, não! Fica... Xexereguns agüenta no osso e interioriza o gemido:
Na extrema-esquerda de seu grande lábio esquerdo, uma tanajura mais afoita atreve-se a verificar tal façanha com picante mordiscada, xô, ui ui, sai dessa xâna que não te pertence! Ai ai, não! Fica... Xexereguns agüenta no osso e interioriza o gemido:
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- (Oh...) No fundo no fundo ainda tô intacta mon amour.
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Uma periquita com síndrome de Parkinson pousa no seu umbigo semi-sardento.
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- Por que será que eu gosto tanto dele? Ele fez meus olhos acreditarem nos deles e nem reparou que eu sou maloquêra. Prometi a mim mesma que jamais me apaixonaria de novo, mas não consigo não pensar nele. Sabe, é tão gozado, sempre que eu estou pensando em determinada pessoa ela também está pensando em mim e/ou aparece, me liga, do nada!... Quando o meu eu-artístico pensa em alguma profissão é porque há alguém do ramo conectado comigo, pode acreditar... Uma vez eu tava no intervalo da minha peça pensando se perdoava ou não minha ex-psicóloga e, atrás de mim, um estudante de psicologia tentava se fazer compreendido por uma mulher que não estava muito interessada em dar-lhe crédito, então aos poucos ele foi fazendo com que eu percebesse sua presença através dos meus ouvidos, já que não tinha controle sobre os da pessoa com quem conversava. É só uma pessoa querer ser percebida, admirada e/ou prestigiada por estar num patamar superior a uma mendiga para isso ser motivo da minha total indiferença. Se a pessoa não se dirige pessoalmete e/ou oficialmente a mim eu controlo meu diafragma, prendo a respiração, e continuo na mesma posição, fazendo o que eu estava fazendo antes da interrupção. Pior é quando querem chamar minha atenção com as mãos. O que será isso, Luis? O que será que anda acontecendo com os parâmetros da intelectualidade brasileira?... Luis?.
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A periquita faz um rápido sinal de negação-comiserativa-levemente altiva com a cabeça e, sem pensar três vezes, dirige-se a um ipê amarelo.
Começa a escurecer: Papai Noel já enfia alguns presentes em chaminés, fronteiras do cemitério.
Onte-ontem, quando brincava com sua melhor miguxa Xênia em um terreno baldio - que diziam ser antigo cemitério indígena - os bicos de suas tetas assanharam-se em uma colméia aparentemente abandonada e, inesperadamente, um batalhão de marimbondos atacou o alvo, deixando-o com um rechonchudo inchaço à maneira neo-romântica anos 70. Agora, sobre a lápide de Luis Gama, seus futuros instrumentos de amamentação alertam-se agonizadamente não só por tesão. Xexereguns sente-se 80% plena:
Começa a escurecer: Papai Noel já enfia alguns presentes em chaminés, fronteiras do cemitério.
Onte-ontem, quando brincava com sua melhor miguxa Xênia em um terreno baldio - que diziam ser antigo cemitério indígena - os bicos de suas tetas assanharam-se em uma colméia aparentemente abandonada e, inesperadamente, um batalhão de marimbondos atacou o alvo, deixando-o com um rechonchudo inchaço à maneira neo-romântica anos 70. Agora, sobre a lápide de Luis Gama, seus futuros instrumentos de amamentação alertam-se agonizadamente não só por tesão. Xexereguns sente-se 80% plena:
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- Dá vontade de abocanhar meu amor? Será que eles caberiam na diplomacia das suas mãos? Tudo bem, não quer falar comigo então boa noite e um feliz Natal.
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Espinhos enfeitam um vaso de cimento na esquina da última morada do poeta. Beatificada pelo torpor da mãe natureza e de seu adubo fosfórico, Xexereguns fecha os olhos e tenta imaginar o estado atual de seu amor platônico, mas não consegue, alguém devia estar a observá-la:
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- Um dia você ainda será muito feliz.
- AaAaaäääih...! Cguedo mel Deuzz!... Quem é você?!
- AaAaaäääih...! Cguedo mel Deuzz!... Quem é você?!
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Segurando sua pomposa cabeça nas mãos, a aparição se apresenta:
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- Maria Antonieta, prazer.
- Tudo bem, pode pegar teu perfume de voltá, ó.
- Fique com ele, não é por causa dessa insignificância que vim aqui.
- Você tem pó-de-arroz?.
- Insira a mão na minha nádega esquerda.
- Que modelito tendência hein gagota! Ai achei... nossa mulheg, que chic!...
- HihiHihiHihiHihiHihi...
- Você só usa Givenchy?.
- Não mademoiselle, arraso com Jean Paul Gaultier também, uma dama de catiguria como eu deve saber usar os produtos certos e/ou de qualidade pra atrair um bofe de meia-idade...
- Sabe diaba... Acho que te conheço de uma vida passada...
- HihiHihiHihiHihiHihi...
- O que você queg comigui? Queg que eu coloque sua cabeça no lugag?.
- Não, apenas quero lhe dar umas dicas básicas de etiqueta, bons-hábitos...
- Sei... Posso ficar com o pó? Ui, merde, minha xexeca tá agdendoooo, ai ui ai é aquela tanajuga gulosa.
- Insira o dedo.
- Ui ai ui ai ouh ouh uäääairrhh... Olha a desgraçada!...
- Posso?
- O paladar é seu chérie, mas como você vai digerir com a cabeça deslocada?.
- Tudo bem, pode pegar teu perfume de voltá, ó.
- Fique com ele, não é por causa dessa insignificância que vim aqui.
- Você tem pó-de-arroz?.
- Insira a mão na minha nádega esquerda.
- Que modelito tendência hein gagota! Ai achei... nossa mulheg, que chic!...
- HihiHihiHihiHihiHihi...
- Você só usa Givenchy?.
- Não mademoiselle, arraso com Jean Paul Gaultier também, uma dama de catiguria como eu deve saber usar os produtos certos e/ou de qualidade pra atrair um bofe de meia-idade...
- Sabe diaba... Acho que te conheço de uma vida passada...
- HihiHihiHihiHihiHihi...
- O que você queg comigui? Queg que eu coloque sua cabeça no lugag?.
- Não, apenas quero lhe dar umas dicas básicas de etiqueta, bons-hábitos...
- Sei... Posso ficar com o pó? Ui, merde, minha xexeca tá agdendoooo, ai ui ai é aquela tanajuga gulosa.
- Insira o dedo.
- Ui ai ui ai ouh ouh uäääairrhh... Olha a desgraçada!...
- Posso?
- O paladar é seu chérie, mas como você vai digerir com a cabeça deslocada?.
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Maria Antonieta come a formiga a põe a cabeça no pescoço:
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- E agora mademoiselle, meilleur?.
- Olha lá uma estrela cadente!
- Ohhh... Isso é um bom sinal!
- Sei não Maria, minha vida só piora....
- Não pense assim mademoiselle: use outras cores, faça amizades com mais chances de prosperidade, chupe limão antes de suas apresentações, freqüente outras rodas da sociedade, vista tecidos novos, a fibra de vidro está com tudo no mundo dos mortos-vivos. Não use calcinha, ela envelhece a vagina mais rapidamente, seus pequenos lábios pedem uma tonalidade mais marcante que os realce, tente o rosa-paixão-intenso #5, da Daspu. Nada de cílios postiços na balada, a noite pede mais transparências, mas você pode ser diferente dos demais e colocar um raminho de arruda debaixo do soutien, caso for usá-lo. Aliás, você tem um busto de dar inveja.
A hora das refeições é uma hora sagrada: ajeite os glúteos na pontinha da cadeira e jamais se encoste no espaldar, nem limpe a sujeira fora do prato nem diga palavrões. Coma tua cera de ouvido pois ela possui um açúcar exclusivo. Beba vinho todo domingo meio-dia em ponto.
Rouge nas bochechas, um pouco de óleo de fígado de bacalhau sobre os seios para dar um aspecto mais apalpável também ajuda, alfazema nos lencóis e fronhas na hora de dormir, e vá numa fonoaudióloga o mais rápido possível.
Aquelas sapatilhas perto do formigueiro são suas?
- Ai mika, sim, brigada pelas dicas... eu nem sei como agradecer...
- HihiHihiHihiHihiHihi...
- Olha lá uma estrela cadente!
- Ohhh... Isso é um bom sinal!
- Sei não Maria, minha vida só piora....
- Não pense assim mademoiselle: use outras cores, faça amizades com mais chances de prosperidade, chupe limão antes de suas apresentações, freqüente outras rodas da sociedade, vista tecidos novos, a fibra de vidro está com tudo no mundo dos mortos-vivos. Não use calcinha, ela envelhece a vagina mais rapidamente, seus pequenos lábios pedem uma tonalidade mais marcante que os realce, tente o rosa-paixão-intenso #5, da Daspu. Nada de cílios postiços na balada, a noite pede mais transparências, mas você pode ser diferente dos demais e colocar um raminho de arruda debaixo do soutien, caso for usá-lo. Aliás, você tem um busto de dar inveja.
A hora das refeições é uma hora sagrada: ajeite os glúteos na pontinha da cadeira e jamais se encoste no espaldar, nem limpe a sujeira fora do prato nem diga palavrões. Coma tua cera de ouvido pois ela possui um açúcar exclusivo. Beba vinho todo domingo meio-dia em ponto.
Rouge nas bochechas, um pouco de óleo de fígado de bacalhau sobre os seios para dar um aspecto mais apalpável também ajuda, alfazema nos lencóis e fronhas na hora de dormir, e vá numa fonoaudióloga o mais rápido possível.
Aquelas sapatilhas perto do formigueiro são suas?
- Ai mika, sim, brigada pelas dicas... eu nem sei como agradecer...
- HihiHihiHihiHihiHihi...
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Na cidade quase fantasma de tão vazia, uma flauta longínqua nina a copa de um pé de laranja-lima onde uma família de passarinhos comemora o nascimento de Cristo, esquisito... A perfeita paz da avenida embriaga-se de sibilantes sílabas não-ditas sem destruir ternos fluxos de vogais abertas como pétalas rumo a um..
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...Final em cravo.
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...Final em cravo.
01 junho, 2008
69
- Quase me esqueço do almoço.
Svetlana acalma-lhe o coração:
- Já levo tá?...
- Não consigo unir o útil ao agradável - a pomba agradece.
Mas raios de algum outro continente tentam impedi-la de comer peixe e voar. Ela atravessa o restaurante e pousa, ainda meio retardada, debaixo da marquise:
- Vamos ser amigas?.
Svetlana tira o uniforme branco:
- Precisamos marcar a cirurgia.
Mas a pomba, insatisfeita, se dirige ao toalete.
- Como foi de viagem?.
- Ignorei chicórias e agrião, como sempre...
Svetlana vê-se acometida de certa preocupação, e descarrega seu nervosismo lavando a louça:
- Procure tirar todo excesso, querida...
- Vamos jantar fora? minha sereia...
Devido ao envelhecimento precoce, a pomba conseguiu a bolsa-auxílio que permitia que sua doença alçasse vôos maiores; tinha certeza que Svetlana ainda a convidaria para um réquiem digno de apresentação no Fausto Silva:
- Sabe, os melhores momentos da minha vida foram sobre seus ombros, em
ny, extasiava-me com
suas receitas...
Svetlana sente que vai chorar, e aproveita o embalo para escrever um poema, enxugando as mãos e procurando se inspirar:
- Se limpa logo pombinha... "Sua madrugada me espanta não pela palavra perdida/ Não pela beleza de uma bagagem além da vida"...
Relampeja o pensamento oriente:
- Está na hora minha sereia, preciso fazer as malas para a eternidade, não há cura para o que eu sinto.
Svetlana tenta disfarçar a irritação pela interferência poética repentina da pomba:
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Svetlana acalma-lhe o coração:
- Já levo tá?...
- Não consigo unir o útil ao agradável - a pomba agradece.
Mas raios de algum outro continente tentam impedi-la de comer peixe e voar. Ela atravessa o restaurante e pousa, ainda meio retardada, debaixo da marquise:
- Vamos ser amigas?.
Svetlana tira o uniforme branco:
- Precisamos marcar a cirurgia.
Mas a pomba, insatisfeita, se dirige ao toalete.
- Como foi de viagem?.
- Ignorei chicórias e agrião, como sempre...
Svetlana vê-se acometida de certa preocupação, e descarrega seu nervosismo lavando a louça:
- Procure tirar todo excesso, querida...
- Vamos jantar fora? minha sereia...
Devido ao envelhecimento precoce, a pomba conseguiu a bolsa-auxílio que permitia que sua doença alçasse vôos maiores; tinha certeza que Svetlana ainda a convidaria para um réquiem digno de apresentação no Fausto Silva:
- Sabe, os melhores momentos da minha vida foram sobre seus ombros, em
ny, extasiava-me com
suas receitas...
Svetlana sente que vai chorar, e aproveita o embalo para escrever um poema, enxugando as mãos e procurando se inspirar:
- Se limpa logo pombinha... "Sua madrugada me espanta não pela palavra perdida/ Não pela beleza de uma bagagem além da vida"...
Relampeja o pensamento oriente:
- Está na hora minha sereia, preciso fazer as malas para a eternidade, não há cura para o que eu sinto.
Svetlana tenta disfarçar a irritação pela interferência poética repentina da pomba:
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- Fique pelo menos pra tomar um cafezinho.
- It´s time to say goodbye.
- Mas recentes pesquisas têm revelado que nem todos tumores são estatísticos. O projeto de desinfetação da descrença está à pino, não acredite no que os suicidas de plantão têm dito a respeito da oosfera sorrow. Você tem que acreditar em mim, eu imploro!
A pomba tropeça, meio vesga, numa cebola velha abandonada perto de um copo d'água, sito ao lado esquerdo da soleira da cozinha.
- Olha só!...
Svetlana desespera-se:
- ... São três da tarde!
- Já estou decidida, me dê o bilhete, eu preciso ler.
Sua penas esvoaçantes dirigem-se pra cima da geladeira --sob um quadro, no qual uma cobra masca o próprio rabo--, e a chuva começa:
- Olha a chuva aí titia - diz uma voz infantil fugidia: atrizes alertam-se, mas logo voltam à cena final:
- It´s time to say goodbye.
- Mas recentes pesquisas têm revelado que nem todos tumores são estatísticos. O projeto de desinfetação da descrença está à pino, não acredite no que os suicidas de plantão têm dito a respeito da oosfera sorrow. Você tem que acreditar em mim, eu imploro!
A pomba tropeça, meio vesga, numa cebola velha abandonada perto de um copo d'água, sito ao lado esquerdo da soleira da cozinha.
- Olha só!...
Svetlana desespera-se:
- ... São três da tarde!
- Já estou decidida, me dê o bilhete, eu preciso ler.
Sua penas esvoaçantes dirigem-se pra cima da geladeira --sob um quadro, no qual uma cobra masca o próprio rabo--, e a chuva começa:
- Olha a chuva aí titia - diz uma voz infantil fugidia: atrizes alertam-se, mas logo voltam à cena final:
- Então era isso minha sereia... Ainda bem que o circo já foi embora - ela dá um arrulhozinho de fadiga, e completa - pra que mentir esse tempo todo?.
- Eu ia lhe pagar tudo em dobro depois...
- Maldição! - a pomba regressa à água de São Jorge, beberica uns finos goles e, inesperadamente --meio grogue e decadente-- cambaleia um bater de asas até as partes íntimas da sereia-mor:
.- Não vou embora sem minha parte.
Afobada, Svetlana corre para o banheiro, esvazia a banheira, e escova dentes com o ácido úrico reminiscente.
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