LADO A
(vai achando que tá bom)
A crucificação é feita lentamente.
Sai da minha frente que eu quero passar
Sai da minha frente que eu quero me expressar
Acompanhe minha recuperação, não posso perder de vista seu R.E.M.#1 tremeluzindo:
Jeremias queria apenas ficar sozinho, escrevendo seus automatismos proféticos para seu blog, sem se preocupar com gramática e caligrafia. Espumava sua misantropia em paz,,, mas sempre tinha uma pessoa mal comida e mal resolvida o atormentando, cala a boca! Desde que ele descobriu, na oficina da metafísica das cadeiras, o símbolo das humanidades negativas,,, como essas coisas do mundo do teatro, ele espera seu ultra-leitor.
=}
Ele espera que a sala abra, mas as pessoas desfilam e rebolam suas imundícias desfocadas, e ele precisa limpar os poros de seu novo encontro respondendo em letra escrita. Ironias à parte, depois que fez a oficina da metafísica do dragão fez amizade com pessoas que não cuidavam nem cultivavam a forma como sopravam tagarelices de seus buracos, fisiológicos ou não. (Lágrimas brancas).
As pessoas estão em todo lugar, seus ouvidos, suas crenças, seus Corpus Christi free-style, seus movimentos bruscos, suas neuras, pendengas, solidões à dois, e mesquinharias.
Há dez anos atrás, antes de editar e concluir vidas alheias, virar mendigo e falar sozinho, Jeremias foi mordido por um cão raivoso, mas o médico não deu-lhe a injeção certa. Seu vago e vitorioso mistério de identidade escreve sem parar, é sua vacina para não enlouquecer de vez, quanto mais ele escreve mais ele se torna invisível. Sua teologia pessoal é algo muy intrigante: baseia-se em códigos de correspondência entre nomes de santos egípcios, africanos, católicos, gregos e celebridades atuais que se revezam em personalidades notórias na cultura, na sociedade, e na ciência do pensamento das massas... Atualmente as pessoas percebem que ele é um cara totalmente sozinho, mas sua classificação é certeira. O lirismo de sua vulgaridade bem sabe que quem não fala o que pensa é dominado por quem não tem medo de nada. A miséria humana tem muito estilo, mas ele ainda não parou de comer lixo da rua para manter-se vivo, atuante. Os oficineiros da metafísica do dragão fotografaram seus sentimentos e seus olhos desvirtuados reprocuram o livre arbítrio.
As pessoas o amam
As pessoas queriam ser ele
As pessoas que gostam dele só o massacram ainda mais,,, tentam lhe ajudar, lhe conhecer,,, mas ele sabe o que é de coração e o que é mafioso, sempre desconfiou das pessoas que não olham nos seus olhos de cavalo:
- Sai da minha frente
Que eu quero passar
Eu quero falar
Eu quero me expressar.
:O
Mas as pessoas não deixam,,,
seu coração espuma e suas narinas fumegam. Você sabe o que eu estou querendo dizer? Ele vai anotando tudo o que se passa, descobriu que é tudo impressões exteriores.... Quer transfigurar seus olhos, de castanhos em azuis, quer desesperadamente vingar-se dos espertos ao contrário,,, pois desde que tomou a enigmática vacina ele sonha acordado. A funcionária da sala da metafísica das cadeiras namora no telefone e não lhe dá coragem nenhuma para qualquer solicitação. A solidão é o parâmetro e o termômetro da conversa, o tom das risadas. Quando as pessoas se deixam guiar pela solidão todo momento bom tem seu condutor escondido, sempre que estão falando alto é porque alguém está sofrendo. A total solidão pode ser maravilhosa, ora essa, tudo pode dar certo.
Não é apenas uma questão de estar por baixo: ser uma testemunha dolorida de casos alheios não apenas pisoteia a vida de Jeremias como o torna um monstro, lentamente.
As pessoas sabem o que ele sente
Mas elas não fazem nada, apenas continuam olhando pra ele, à espera de um acidente
Porque nós somos todos iguais
Porque nós somos filhos de Deus
(Lágrimas cinzas)
relâmpagos lá fora: os santos se revezam, atualmente eles são políticos, esportistas...
Acham que os olhos de Jeremias são oração escondida. Alô? Tudo bem? Falam com ele enquanto olham para outra pessoa. Nem tudo nessa vida é linguagem visual mas infelizmente Jeremias a conhece muito bem. Quando a funcionária decide abrir a porta o evento já é registrado. Mas a elegância de pensamentos não se desfaz nem na fogueira dos piores momentos. Com seus passos arrastados Jeremias vai chegando, agulhas cutucam seu corpo - as pessoas vão chegando,,, lotando sua respiração. Ele tira uma garrafa de vinho da mochila, bebe, e bruxuleia a correnteza das faíscas do seu R.E.M. #2.
Quando eu estou passando
As pessoas gostam de conversar
Quando eu estou passando
As pessoas querem se conhecer
Começa fazendo a pose: uma careta concorda com o aprendizado, tudo ok?
O professor ainda "não chegou" de uma recente viagem...
As cadeiras estão dispostas em círculos, Jeremias precisa trazer o professor de volta para o Brasil em pensamento: ele deixa de contrair aquiescências, seus colegas o rejeitam, por enquanto só tagarelam, falam as mesmas merdas de sempre, o tom pejorativo de sempre.
As pessoas sentam, Jeremias se concentra, um em um milhão, bilhão, trilhão, não importa, ele não pode pagar pelo pecado dos outros, sua cruz ele mesmo constrói.
As pessoas só não contavam com uma coisa: Jeremias jamais desistiria de seus objetivos para viver a derrota alheia: nunca irá desistir de encontrar os verdadeiros sabotadores de sua consciência, sejam eles do ramo da medicina, do teatro ou do caralho a quatro.
Se a vida das pessoas não deu certo a culpa não é dele, e é assim e sempre será assim a maneira como as pessoas serão julgadas. Fazer os outros se sentirem errados não é tarefa fácil para qualquer um. As vagas para a metafísica das cadeiras estavam encerradas, mas Jeremias afiou as mãos e estalou os dedos, estudou escondido a metafísica dos balões, e hipnotizou o professor na fila da bilheteria de uma peça de teatro...
Sempre cabe mais um em espaços públicos, de graça até injeção na testa né?... Uma das peças para qual a oficina se destina irá fazer uma tour mundial de apresentação e passará pela Rússia, e ele quer desesperadamente ir pra esse país...
Cabeças pra trás: isso não é um registro, nem uma revolução pessoal, porque as pessoas continuam olhando pra ele. Quando na verdade ele está exposto por completo, na velha e mesma tentativa de conhecê-lo as pessoas acabam por conhecer a si mesmas... No albergue ficou sem ranguear,,, tomou sua cota diária de lixo, não decidiu o destino das crianças que morrem de frio, aqueceu-se em um paletó antigo, descoloriu a carapinha meio calva, tomou banho, perfumou-se com alfazema, colocou um brinco na orelha esquerda, catou baganas de cigarro para um happy-hour em frente à lan-house, jogou vôlei pela tarde, e lembrou-se de que era gente, só em aula ele consegue parar de atuar. Quando tudo estiver acabado relatará na internet sua última proeza.
Distenção de virilha: o professor já diz a respeito de sua insubordinação tardia, mais cedo ou mais tarde o baque será sentido, logo será suspenso, e Jeremias sempre será lembrado. Um primeiro tremeliquezinho se dá na cadeira do professor, Jeremias estala um calo do dedão direito, suas mãos estão firmes. Sintetizar pessoas não é nada fácil, elas batem pé no chão insistentemente como que para exteriorizar suas relutâncias em querer ir embora. Ele se refugia em pensamento até sua bunda de pagodeiro, projeta os joelhos pra frente, e é como um passo de balé que recupera seu canto direito, onde uma colega humilde e gostosa olha para o meio de suas pernas. Do outro lado uma coluna humana estica a corcunda, e ele reza para Nefertiti.
Cheiro de chuva lá de fora: as musas também se revezam, atualmente elas são cantoras, atrizes. Respiração: as pessoas fazem questão de fungar e tossir na cara de Jeremias, mas há uma coisa com a qual elas não contavam: nas aulas da metafísica do dragão ele aprendeu a segurar as exalações do castigo até a hora certa de ascendê-las, e não há remédio que torne saudável uma solitude predatória. Os parasitas são os meios,,, as fúrias são as portas, e a cólera das paredes é quem ordena:
- Eu vou embora.
Vai indo que eu já vou, reviravoltas incorporam tarde demais, Jeremias vê a fresta, nunca descartou essa possibilidade. Baixa a neblina quando as pessoas atropelam suas intenções sem querer-querendo, e o atropelado fala calmamente:
- Não é nada pessoal.
Quem mandou sugerir intimidade com quem não se conhece? Debaixo de sete peles também bate um coração, pelo que virá, e o que restou de uma missão subconsciente. Debaixo de um corpo fechado ainda pulsa a razão - e ela não aceita a desigualdade social de jeito nenhum, embora meio adormecida pela sazão de frutos virtuais.
Ponte: o sebo escorre da madrugada das paredes, em cada rachadura a luz perpassa um novo reflexo afogado em arrependimento:
- Desculpe por favor, desculpe.
.
LADO B (as alturas, deixe-as limpas)Estamos conectados, meu amor...
Você ainda não sabe do que eu sou capaz...
Recuperar-me emocionalmente não significa que eu vá perdoar o que as pessoas fizeram comigo. Se você é feliz o problema não é meu...
Imaginem o seguinte: eu vou te prometer mundos e fundos, vou dar o beijo da sua vida, e quando eu der um tiro na sua cabeça e você já estiver morto eu vou dizer todo arrependido e condoído:
- Desculpe, eu não queria te matar.
Tudo em ordem?
Respiração ok?
Respirar nuvens...
O quão perto de mim
Um nevoerio de espelhos
pode respirar?
Só depois da metafísica dos répteis Jeremias soube que existem pessoas que não respiram...
Meus amigos, vocês estão respirando?
o_O
Não sei quem é mas já sei como paira certa aproximação acomodada, Jeremias sabe que não deseja mal a ninguém, apenas se defende dos espertos ao contrário, ele ainda tem um pouco de medo de atrair coisas ruins com o que escreve, mas todos os planos de descendência desde a queda de Atlântida fazem dele um bueiro de ultra-conhecimento, embora tenham lhe ensinado que tudo é ruim e tudo não presta. Na distração das asas a neblina sobre um palquinho murcho de gravidade não é suficiente para dar conta da inflação de um balão com cara de dragão. Não sei por qual motivo as pessoas tremem, não está frio, e as bolhas de sabão de seus desejos já está quase saindo de seus buracos, fisiológicos ou não. Todas as lembranças gordurentas apagam-se de novo, trovões lá fora:
As pessoas
Nascem
Brincam
Estudam
Trabalham
Casam
Procriam
Morrem
=/
Câmera lenta: crucifixo no peito, olhe nos meus olhos, agora você sabe que eu existo???
a espuma de sangue não faz Jeremias rosnar, nenhum truque de bruxaria é tão intenso quanto a fúria eterna de suas
Lágrimas Negras
sua vontade de falar a verdade. Jeremias apresenta seu número com "Parece que eu Morri", bendito é o fruto dos sentimentos de sua coreografia, a vida é assim mesmo, eterna em um segundo, revelada em um olhar. O desgraçado não dá nenhuma volta completa no palquinho em frente aos colegas. O professor desespera-se.
As pessoas são assim mesmo, é complicado.
Esse clima,,,
Essas vozes,,,
Esses vasos,,,
Antes da vacina ele não sabia o significado da palavra mágoa, Jeremias poderia ser o antídoto de cada encontro alheio mal feito. Mas a melhor maneira de conhecer as pessoas é expondo suas fraquezas e defeitos para ver como elas reagem. Existem tantas pessoas que eu tenho que conhecer
Tantos livros que eu tenho que ler
Tantas cabeças que eu tenho que ver
Existem várias pessoas que vale a pena conhecer...
Flores e passarinhos já operam na máxima potência
Num belo dia
Voltar pra casa está na moda
Mas vou viver esse sonho
Nesse mundo ou em um coma profundo
Tudo é possível
Palmas
Jeremias não sai de cena: investidas vulgares voltam do mesmo jeito que chegam de gargantas glicerinadas, recebo-te conforme sua aparência e despeço-me conforme seu conteúdo. Nomes escorrem das minhas costas, Jeremias pega a escova e enxuga o refluxo da minha espinha. Como um tiroteio de encantos as palavras atravessam tubos humanos caretas com o que restou do próprio ar de estranhamento, vigente desde o fim do século XX. Expio animação alheia. Voa voa amiguinho.
Jeremias nunca deixou de acreditar no valor da amizade.
Pelo coração passam os passarinhos, ternos fluxos, amigos não-assassinos, mães e pais da violência do amor. Os ossos pesam, os tubos humanos corcundam, qualquer descuido é mudança de maré na platéia, é onda de apnéia cedida.
Jeremias é bonzinho, sempre foi e sempre será, as pessoas também acham que ele é burro. Mas seus dedos já conhecem cada cadeira. A praça levanta e a fuga senta.
Abertura
Ventania lá fora:
Ponha-se na minha pele e tente sorrir
Ponha-se no meu lugar e tente se abrir
comigo
Tá vendo o que eu sinto?
O mundo mofa enquanto você caminha no ritmo da luz em sentido contrário.
Infelizmente
Só Jesus Cristo para perdoar
Não dá pra entender mais nada não é?
Que da hora isso né???
Que sensação bouwa né???
As pessoas te impedem de enxergar o horizonte???
Tudo é indiferença???
Entre as nuvens já não se enxerga, as pessoas suspendem seus sonhos,,, tudo é interferência,,, as pessoas tentam fazer de sua obra a recompensa que Deus não lhes deu...
Me dê asas meu Deus!
Amaldiçoe quem não reconhece seu filho. A cruz é erguida, desde 1968 ela andava abatida, quero ouvir a respiração das pessoas mas elas já estão completas pelas nuvens. O teto já totalmente rachado, portas fechadas dentro de suas casas?
Ah... sem gravidade, que coisa bouwa né?
Morte em vida: as pessoas disseminam o ódio, gritam, esperneiam, não aceitam a tempestade lá fora
:[
As nuvens estão maravilhosamente opacas, carregadas, as cadeiras dão piruetas no céu, lindo, divino, Jeremias abandona as pessoas, sai do centro cultural, não deixa que o tufão se misture às suas
Lágrimas de Sangue
e corre pra lan-house.
Se é da natureza humana errar a tal ponto eu não sei. Só sei que Jeremias é e sempre será o sacrifício, a verdade, e a sentença.
Se o amor se burocratizou eu não sei, só sei que as pessoas cegaram seus sentimentos em nome de um mundo de injustiças e incertezas.
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